terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

ACHO QUE FOI EM 2006 - Estava dando aulas de História para alunos do EJA-II (Educação de Jovens e Adultos). A lembrança do genocídio dos habitantes de Canudos, me fizeram escrever isso. Discutimos o texto em sala de aula e comparamos com a morte de Chico Mendes e os conflitos hoje protagonizados pelos movimentos sociais pela posse da terra. Sempre guardo uma pasta no meu computador com algumas baboseiras. Essa é uma delas.


BRASIL, DE CONSELHEIRO A CHICO MENDES

Vejam só que confusão
Um grande conflito gerado
Por gente em oposição.
Pobres sem terras d'um lado,
D'outro, ricos, afortunados,
Quase donos do sertão.

Era o cenário de Canudos
Nos tempos de Conselheiro.
Mais de trinta mil brasileiros,
Gente boa e humilde da terra.
Tenazes "cabôcos" guerreiros,
Trabalhadores por vocação.

Mas os "senhores" das terras,
"Qui" nem hoje acontece,
Num queriam produção.
E os "cabôcos" revoltados
"Preferiro" os rigores da guerra
Do que viver na "miséra"
Sem dignidade nem pão.

Conselheiro, de nome Antonio,
A República não reconhecia.
Renegava o poder do Estado,
Impostos não recolhia.
Foi assim que viram nele,
Um cabra macho retado,
Ameaçando a oligarquia.

O cearense Conselheiro
Tinha muitas qualidades:
Batia de frente c'os ricos;
"Infrentava" as "otoridades".
Era corajoso e altaneiro.
Também consolava os aflitos
Com seus dons de milagreiro.

Mais de dois anos se passaram
Desde a fundação do arraial.
Aos "óio" dos governantes,
Não parecia um mal.
"Inté qui", num certo dia,
Os "ome" tomaram ciência;
Mandaram tropas pra Canudos
E “infrentaro” resistência.

Dias de violência e aflição.
Os canudenses guerreiros
Não arredaram da região.
Desfilavam pela caatinga
Como fosse a palma da mão.
Já as tropas repressivas,
Sem o traquejo do sertanejo,
Penavam na locomoção.

Usando dessa vantagem,
Canudos mantinha firmeza.
Com rapidez e esperteza,
Aos soldados repelia.
Deles, tomavam as armas,
Comida, roupa e munição.
E assim, por algum tempo,
Foi ficando a situação...

Ao ambiente adaptado,
O sertanejo em frente seguia.
E, sem muita dificuldade,
A lida com o Estado vencia.
"Inté” “qui", num certo dia...
O governo da Bahia,
Requisita os federais.

Um contingente de gente,
"Cum" arma "inté nos dente",
Pra Canudos se deslocou.
Milicos pra tudo "qué" canto,
Cercando por tudo "qué" lado,
Pra acabar co'a bonança,
A fartura e a festança,
Da vida feliz do “arraiá”.

E a carnificina começou:
Matar tod'quela gente,
Destruir a cidade santa,
Era "as orde" do governador.
Mas, com Conselheiro à frente,
Canudos de um povo valente
Sem luta não se entregou.

Passava o mês de outubro
Do final de oitocentos...
Quando a batalha cruenta
Chegava aos finalmente.
O "arraiá" foi batido...
Trabalhadores dizimados,
Mutilados, torturados, vencidos...

Entre os da parte da milícia,
Tombou Moreira César, o Capitão.
Logo, também Antonio,
Jazia estendido no chão.
A História não deu exemplo.
Foi como plumas ao vento...
Hoje o fato se repete
Nos quatro cantos da Nação...

Parece mais uma guerra...
Os "trabalhado”  “inda" sem terra,
Reage vigoroso e insolente,
Pois pobre também é gente!
Com a violência da invasão,
A Paz do campo é profanada
E as entranhas da terra banhada
Com sangue brasileiro, cidadão

O pobre povo do campo
Rebela-se contra a miséria,
Usura, abandono, incompreensão.
Nessa luta, ameaças e mortes.
A contenda se estende...
No acontecer d'uma delas
Assassinaram Chico Mendes,
(Hoje nome de Fundação).

E não durou muito tempo
Pra vingar novo desastre.
Dessa vez uma mulher
Que defendia os pobres
Com coragem e muita fé.
Nesse crime bem recente,
A freira boa e inocente
Levou bala dos pistoleiros.
E morreu Dhoroty Stang
Nas margens d'um igarapé.

Por causa desses conflitos
Sem providência de apuração,
A Amazônia está órfã,
Sua floresta sem proteção.
Até quando? Até quando?
Pela cabeça dos homens
Assim será..., será... meu irmão?


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Faltou dizer, na prosa, que a igreja apostólica romana estava por trás de tudo... Antonio Conselheiro incomodava mais os religiosos daquela instituição do que aos governantes da época.  Mas, esse aspecto não deixou de ser debatido em aula. Para complementar, foi passado o filme "Deus e o diabo na Terra do Sol" (Glauber Rocha).  Uma película brasileira de 64, que tinha como tema o cangaço e o mandonismo local dos coronéis no Nordeste, o beatismo ou misticismo de base milenarista, a literatura de Cordel, Lampião e Corisco e outros personagens da época.  Também envolve igreja, numa passagem em que um padre junta-se a alguns latifundiários para contratar um pistoleiro (Antonio das Mortes) para exterminar todos seguidores de um beato (Santo Sebastião) que já tinha morrido. Esses seguidores do beato eram partidários de um catolicismo místico.

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