quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A SAGA DE DIÓGENES


Diógenes de Sínope, O Cínico, como também ficou conhecido, era um filósofo que viveu em Atenas. 

Naquela cidade grega, tornou-se   discípulo de Antístenes, antigo pupilo de Sócrates. Decidiu perambular pelas ruas de Atenas como um mendigo, fazendo da pobreza extrema uma virtude.  Sua casa teria sido um grande barril. Andava pelas ruas carregando uma lamparina, durante o dia. Dizia estar procurando por um homem honesto. 

Tempos depois, foi viver em Corinto, onde continuou a buscar o ideal Cínico da auto-suficiência: uma vida que fosse natural e não dependesse das luxúrias da civilização. Por acreditar que a virtude era melhor revelada na ação e não na teoria, sua vida consistiu duma campanha incansável para desbancar as instituições e valores sociais do que ele via como uma sociedade corrupta.

O Cinismo de Diógenes nada tem a ver com o conceito pejorativo de pessoas sem pudor, indiferentes, falsas ou descaradas. O Cinismo é uma corrente filosófica que parte do princípio de que a felicidade nada depende do externo ao indivíduo. O mais importante representante dessa corrente foi Diógenes. 

Diógenes teria sido aprisionado por piratas  e vendido como escravo. Um homem com boa educação chamado Xeníades o comprou. Logo ele pôde constatar a inteligência de seu novo escravo e lhe confiou tanto a gerência de seus bens quanto a educação de seus filhos.

São muitas as citações da vida de Diógenes. Numa delas, conta-se que um dia Diógenes foi visto pedindo esmola a uma estátua. Quando lhe perguntaram o motivo de tal conduta ele respondeu "por dois motivos: primeiro é que ela é cega e não me vê, e segundo é que eu me acostumo a não receber algo de alguém e nem depender de alguém."

Moral da história: se nosso filósofo Diógenes teve tanta dificuldade para encontrar um homem honesto na Grécia Antiga, imagina se vivesse nos dias de hoje em nossa região e fizesse o mesmo! No grupo político que aí está, então, nem se fala!

terça-feira, 17 de setembro de 2013

QUEM INVENTOU O ROCK AND ROLL?


O norte-americano Chuck Berry é considerado por muitos o inventor do Rock and Roll.
 
Berry tem hoje 85 anos e começou sua carreira musical na década de 1950. A música Maybellene (1955), seu primeiro single, é tida como uma das primeiras canções de rock. O cantor e compositor foi um dos principais nomes da Chess Records, gravadora que também lançou Etta James e Muddy Waters. Johnny B. Good, Roll Over Beethoven e Carol estão entre os hits mais famosos do cantor.  São clássicos inesquecíveis do rock.

Apesar de muitas bandas passarem a compor e cantar o rítimo criado por Berry  -  entre elas a de Bil Halley  -, foi preciso um branco e boa pinta para que a música pegasse comercialmente. Esse cara foi o Elvis Presley, que se transformou no Rei do Rock.  Claro que o Elvis também tinha muito talento, mas não se pode tirar o mérito de Charles Edward Anderson Berry. 
 
Berry nasceu em Wentzville, no Missouri, dia 18 de outubro de 1926.
 
Em 1986, Chuck Berry foi um dos primeiros roqueiros a entrar para o "Rock And Roll Hall Of Fame". Sua importância para o rock é essencial. É considerado por muitos o verdadeiro rei do rock, título usurpado por Elvis Presley. Certa vez, John Lennon em entrevista chegou a afirmar, "se vocês querem dar outro nome ao rock´n´roll, podem chamá-lo de Chuck Berry". 

"XI-JÉGUE"

Estava pensando em escrever um bom artigo sobre o "baianês".  Tecer considerações a respeito de expressões largamente empregadas por nós, bahianos, como: "oxi", "vixe", "nestante", "pocou", "mais eu", "ni",  além de outras. Não parece tarefa fácil, pois tem o "baianês" sulbaiano, o oestano e o metropolitano. Arrghh!!!

Tá difícil "véi". A "bola-sete" entrou em sinuca-de-bico e o taco espirrou! Tô na "Briosa"! É...!!! de volta! E o tempo anda escasso, "sô"!

Pra não deixar o blog parado, decidi republicar algumas abobrinhas escritas tempos atrás. 

Aí está uma delas:

 

("XI-JÉGUE" foi postado originalmente em fevereiro de 2011)   

 

 "XI-JÉGUE"

Fazia uma bela noite em Alécia. O calor era intenso e qualquer fiapo de brisa seria muito bem-vindo naquela praça do Pontal. A lua, sorridente, abraçava a todos com seus raios luminosos.

Ágabo chega e senta-se em volta de uma das mesas. Logo depois, seu amigo Aristides faz o mesmo. À frente dos dois, num "trailer" esfumacento, gente se desdobra, nas chapas quentes e engorduradas, para atender aos pedidos com a maior brevidade possível.

Chega um rapaz, travestido de garçom,  ao qual Ágabo solicita o "menu", num francês pra ninguém botar defeito.  

- O quê? "meni"? - surpreende-se  o rapaz.

- É!  Mas, se não tiver "meni" pode trazer o cardápio mesmo!  -  diz Ágabo.

Enquanto isso, Aristides só observa.
Já de cardápio nas mãos, Ágabo esbraveja.

-  Mas, que diabos de tanto "Xis"!

- O que foi Ágabo?  -  interroga Aristides.

- Dê uma olhada...  -  e foi passando o cardápio. - Olha Aristides, quase todos os sanduíches começam com a letra "Xis"!

- Ahn... é verdade.  -  Aristides concorda com o amigo.

- Já leu?  Tem diversos "espécimes" de sanduíches cara! "X-Egg", "X-Bacon", "X-Tudo", e por aí vai...

- Sim, e daí?  - pergunta Aristides.

- Logo você cara!?  Alguém que eu tenho na conta dos intelectuais... Você, "O Brilhante e Astuto", me fazendo uma pergunta dessas depois de ter lido essas baboseiras!?

- Calma velho!

- Onde você já viu se escrever queijo com Xis!?  -  pergunta Ágabo.  -  E ainda dizem que "O Incerto" sou eu! -  completou, demonstrando irritação.

- Ah... entendi...

- Aaahhh!  Já percebeu?  E antes que você me diga: "É queijo em inglês, seu burro!", eu vou lhe dizendo que queijo em inglês é com "C" e não com "X".  Escreve-se "Cheese", cuja pronúncia correta é "tchiiz" e não "Xis".
  
- Tá bom!  Não precisa fazer discurso!  Nós viemos aqui pra quê?

- Pra comer, né!?

Mal Ágabo havia respondido, chega o "garçom" com os pedidos:

- O "Xi-Jégue" é de quem mesmo?

Ágabo olhou pra Aristides, que também olhou pra Ágabo.  E os dois deram uma sonora gargalhada.

- Tá vendo... - foi dizendo Ágabo.  -  Queijo virou "Xi" e ovo virou "Jegue".

Saíram dali comentando sobre a fertilidade da imaginação dos brasileiros em criar novos verbetes.  Não demora muito, o Ximenes ou o Aurélio incluem essas baboseiras nos seus dicionários com os significados estapafúrdios que as pessoas querem dar a elas, concluíram.

Notas: 
1) BAHIANO! Foi assim que escrevi! Bahiano tem que escrito com "H" PORRA!!!! E com o "HI" tônico. Baiano, sem "H", é pra quem nasce e/ou vive em baia, local onde os equinos descansam e se alimentam. Os gramáticos que se fodam! Não sabem nada! São todos burros!

2) ARISTIDES - O Brilhante e Astuto (em grego).

3) ÁGABO  -  O Incerto (em grego).

Autor: Souza Neto (26/02/2011). 
(Membro da Academia de Letras e Artes de Canavieiras (ALAC).

ILAÇÃO DO DIA

Nunca deixei de usufruir do DIREITO de escolha pelo VOTO. Talvez, por não querer usufruir do DIREITO de excluir-me da responsabilidade pelos descalabros políticos que assolam o Brasil!

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

COMO A INGENUIDADE E A TOLICE FERTILIZAM AS ESPERTEZAS

Fazia uma manhã modorrenta em Alécia. Mesmo àquela hora  - e já passava das 8  -, o sol teimava em se esconder por detrás de espessas nuvens acinzentadas. 

Andando pelo centro, Alethea se depara com Abnara (sem trocadilhos). Abnara está a aguardar a chegada de uma amiga comum aos dois: Talassa.  

Oriunda de Soterópolis, a embarcação que a traz perdeu o horário. As condições do mar não estão muito favoráveis à navegação.

Talassa
Enquanto aguardam, Alethea e Abnara tratam de colocar o papo em dia.

Abnara comenta com o amigo sobre as tentativas dos "eco-espertos" jogarem a população de Alécia contra os empreendimentos estruturantes que estão porvir: o Porto e a Ferrovia.

- Esses tais "ambientlistas" são semelhantes a certos "religiosos"...

- Como!  -  Alethea interrompe, impedindo Abnara de concluir seu raciocínio.

- É isso mesmo!  - completa Abnara.

E Abnara prossegue:
- A humanidade não pode reclamar por não ter sido alertada! O Homem de Nazaré foi muito claro quando recomendou para se ter cuidado com os falsos profetas.

- Sim, e daí... Não estou entendendo! Onde está a semelhança entre os falsos profetas e os "eco-chatos"!?  -  interroga Alethea, demonstrando certa ironia.

- Na forma de enganar, velho!  Na maneira como fazem dos incautos e menos esclarecidos uns bobocas!

- Ah! Sei...  -  Balbucia Alethea.

- E veja que os motivos são os mesmos, tanto dos falsos profetas da religião quanto dos falsos profetas do meio ambiente: ganhar dinheiro!  Os "religiosos", dos pobres coitados; os "eco-espertos", dos ricaços do mundo!

- É, mas por que isso acontece...? 

- Porque os motivos dos enganados também são semelhantes!

- Como!?  -  Alethea quase sai do chão.

- Simples, meu caro.  -  Retorna Abnara com sua voz pausada e mansa.  - Não se esqueça de que a maioria dos homens na Terra está sempre em busca de um degrauzinho para o Céu.  Pelo menos os ditos espiritualizados... Os que não são materialistas nem agnósticos.

- É... Você tá certo!  -  Consente Alethea.

- Por isso tornam-se tolos e são facilmente enganados pelos falsos profetas das religiões. Você já notou como número de igrejas não para de crescer! Cada dia surge uma nova e com nome novo!? E geralmente com seus templos encravados nas comunidades mais carentes e menos esclarecidas!?

- Calma Abnara, não precisa fazer discurso!

Fingindo não ouvir as ponderações do amigo, Abnara continua:
- Pipocam aqui, ali, como se fossem milho jogado no óleo quente!

- Mas, por que os caras se deixam enganar assim!?

- Velho, já lhe disse: anseiam por um degrauzinho que os leve até o Céu!  E, por sua própria inteligência limitada, esses homens e mulheres se tornam joguetes da ilusão!

- Sei, mas o que leva as pessoas a serem enganadas pelos falsos profetas do meio ambiente, se estes não prometem nada das esferas celestiais? 

- Ah! Cara! Aí a moeda de troca é outra!  Diferentemente daqueles que querem um "terreninho" no Ceú, os sublimados pelos "eco-espertos" querem um terreninho aqui mesmo na Terra.  Uma gleba, um sítio... uma área cheia de mato... um riozinho ou uma lagoa pra pescar uma piaba e colocar no espeto. Coisas assim! E querem que o desenvolvimento passe bem longe, ainda que seus descendentes tenham que comer o pão que o diabo amassou para sobreviverem miseravelmente, quando poderiam muito bem tirar proveito do mundo tecnológico que aí está.

- Porra, cara!  Quando você engrena não quer mais parar de falar!

- Eu só estou tentando lhe explicar, Alethea. O homem é um tolo. Seu orgulho e sua pouca inteligência leva-o a aceitar erros por verdades e repelir verdades como se erros fossem!  E o resultado colhido desses enganos são as decepções.  Decepç...
 
- Olha lá!  Lá vem nossa amiga Talassa!  -  Exclama Alethea apontando o indicador na direção de um pontinho quase imperceptível no horizonte do mar de Alécia.

Foi o suficiente para ambos encerrarem aquela conversa e a passos lépidos dirigirem-se ao cais.

Por: Souza Neto


Índice remissivo:
- Alécia - Aquela que é banhada pelas águas do Mar.
- Alethea  -  Verdade Suprema.
- Abnara  -  Luz da Sabedoria
- Talassa  -  Vinda do Mar

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

No Melhor Começo

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Marco Balbi
Com o título acima, o jornalista Jânio de Freitas aborda em sua coluna de 1º de agosto, publicada no jornal Folha de São Paulo, as restrições orçamentárias impostas pelo Executivo federal a vários órgãos governamentais, dentre os quais teve destaque, pelo montante, a do Ministério da Defesa.
Inicialmente o articulista aponta que a decisão inicial do Comando da Marinha, posteriormente desmentida, de suprimir o expediente da grande maioria das organizações militares subordinadas, sob o aspecto meramente econômico, era muito boa, justificando com percentuais não muito claros, ao mesmo tempo em que envolve o Exército Brasileiro e o meio expediente que vige em grande parte das unidades desta Força.
Esquece-se por certo o jornalista que a profissão militar é sideral, ou seja, seus membros encontram-se 24 horas à disposição da sua Força. Cumprem suas escalas de serviço, atendem aos exercícios de adestramento, participam das atividades previstas pela Constituição Federal e pelos demais dispositivos legais, conforme determinado, sem hora ou descanso. E sem receber qualquer tipo de ajuda remuneratória, nos seus parcos salários, reconhecidamente os mais baixos da administração federal.
Na ânsia de atribuir um aparente laissez-faire aos militares remonta-se ao tempo do então Ministro do Exército, Leônidas Pires Gonçalves, quando o Exército deixou de ter a "regalia" do meio expediente às quartas-feiras. Bom, se voltasse mais ainda no tempo, poderia lembrar que as organizações militares cumpriam expediente aos sábados pela manhã.
A seguir o artigo levanta uma suspeita, faz uma denúncia sobre os contratos assinados pelo governo brasileiro, através do Ministério da Defesa e do Comando da Marinha com uma empresa francesa para a construção da Base de Itaguaí, onde se desenvolve o projeto dos submarinos brasileiros, incluindo o nuclear. Parece-me que se o jornalista tem efetivamente dados que comprovem o benefício concedido a uma determinada empresa brasileira que os apresente formalmente ao Ministério Público para que o mesmo abra o processo necessário para conduzir a investigação. Caso contrário, estará apenas tentando sujar a reputação de pessoas e empresas com meras suspeitas.
A seguir, busca denegrir a imagem das Forças Armadas, acusando-as de desatualização conceitual, por ainda estarem doutrinariamente ligadas aos tempos da 2ª Guerra Mundial. Bom, só para falar do Exército Brasileiro, mas que por certo ocorreu com as demais Forças Armadas, desde 1970 a doutrina vem sendo constantemente atualizada, mediante o estudo continuado, característica da profissão militar. O Sr. Jânio de Freitas por certo nunca esteve em contato com organizações que estudam e pesquisam a doutrina, casos históricos recentes e atuais, atualizando permanentemente os currículos das escolas em todos os níveis, de oficiais e praças.
Da mesma forma o articulista deve desconhecer o esforço hercúleo desenvolvido pelos institutos de pesquisa das três forças, tentando desenvolver tecnologia autóctone, com os parcos e descontinuados recursos financeiros disponíveis e tendo como massa crítica cientistas, muitos deles formados nas ilhas de excelência do IME e do ITA. Por certo que não só estes, mas também os operacionais acompanham o avanço que as modernas tecnologias impõe ao modo de conduzir um futuro combate que todos, em especial os militares, esperam não acontecer. Mas precisam, pelo menos, de um mínimo de poder dissuasório para desestimular eventuais ameaças.
Para finalizar o artigo não poderia deixar de dar as duas últimas contribuições com características rançosas: o anti-americanismo e o inconformismo com a reação democrática de 1964. Quanto ao primeiro critica a atuação dos EUA na defesa dos seus interesses ao redor do mundo. Quanto ao segundo afirma que as organizações militares "deixaram de ser clubes de conspiração antidemocrática." Justo no ambiente onde sempre se forjou o caráter de jovens brasileiros, incutindo-lhes civismo e patriotismo, o Sr. Jânio de Freitas acha que se conspirava diuturnamente contra a democracia. O autor deve ser um ótimo ficcionista.

Marco Antonio Esteves Balbi é Coronel na Reserva do EB.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

SÓFOCLES: SOBRE AS ELEIÇÕES


Máquina de medir Honestidade
Final de tarde em Alécia. Encontro o sábio Sófocles aboletado numa daqueles desconfortáveis cadeiras do Bar Vesúvio. Não sei como a estátua do Contador de Estórias consegue permanecer ali tanto tempo!

Cumprimento-o e sento-me.

Conversávamos amenidades, coisas de menor importância, quando chega o amigo e sempre esquecido Anésio.

Anésio dá um outro rumo à nossa conversa.  Quer falar de política. Começa dizendo que o candidato fulano ou beltrano pode ser a solução para os desmandos dos últimos tempos em Alécia.

É aí que, com sua extraordinária sabedoria, o Glorioso Sófocles faz a seguinte intervenção:

- Políticos!  Um dia poderei acreditar neles!  Mas só quando houver uma máquina capaz de medir honestidade!

Anésio, olhando pra ele surpreso, só consegue balbuciar:

- Ma... mas...

- E tem mais!  -  Prossegue Sófocles  -  A máquina tem que ser inviolável! Os caras são capazes até de fraudar equipamentos pouco confiáveis!

Achando tudo aquilo um pouco engraçado, digo:

- Sou obrigado a concordar com você Sófocles. Mas... mesmo sem ter a alma de Elpídio, acredito que entre todos que compõem a nossa sociedade, deva existir um  -  ao menos um  - honesto e competente para dirigir os destinos de Alécia. Um de nós, por exemplo!

- Sim, há!  Até muito mais que um! Mas estes não somam entre os políticos.  Pelo menos entre os atuais conhecidos e partidários.  Quanto a nós mesmos, é bom ficarmos de fora!

- E se um desses de que você fala resolver entrar na política e se candidatar?  -  Pergunta Anésio.

- Olha, Anésio, o cara não vai conseguir se eleger!  Será o menos votado entre todos candidatos.

- Mas, por que você pensa assim?  -  Insiste Anésio.

- Vamos lá!  -  Prossegue o Glorioso  -  Esse nosso candidato vai cumprir a legislação eleitoral, não vai?

- Vai!!!  -  Respondemos em uníssono.

- Bem... O que você acha que acontecerá quando, durante a campanha, um eleitor condicionar o seu voto a um "presentinho", como 200 tijolos, 1 saco de cimento, 1 cesta básica, ou coisa que o valha?

-  Ele não vai aceitar!  -  Responde prontamente Anésio.

- Pois é, por isso ele não será eleito!  Vai perder o voto desse eleitor e de todos aqueles que não são honestos.

- Como!?  Então você acha que o eleitor que vende seu voto não é honesto!?

- Acho não... Ele é tão desonesto quanto o que compra seu voto! 

E Sófocles continua:

- E é aí que mora o problema... Para que uma pessoa honesta consiga se eleger é preciso que a maioria do eleitorado também seja honesta.  E hoje não é!

- Pô, cara!  Não tinha pensado nisso!  -  Exclama Anésio.

- É isso!

Eu, que fiquei a maior parte daquela conversa como expectador, entendi as razões de Sófocles ser chamado de Glorioso e Sábio. Também achei que, depois da lição do Sófocles, o Anésio vai começar a por seus neurônios para trabalhar.

Por: Souza Neto

  • Alécia  -  Aquela que é Banhada pelas Águas do Mar 
  • Sófocles  -  O Sábio  -  O Glorioso.
  • Anésio  -  O Desmemoriado  -  O Esquecido.
  • Elpídio - Aquele que tem esperança.

terça-feira, 9 de julho de 2013

IGNORE O CANTO DA MULTIDÃO E MARCHE AO SOM DE SUA PRÓPRIA MELODIA

Num belo e ensolarado dia, caminhava pelo calçadão no centro de Alécia, quando escutei uma voz: "Alethea!"  Aquele timbre me era bastante familiar, mas, de imediato, não consegui ligá-lo a nenhuma pessoa.  Voltei-me e, a pouca distância, vi o amigo Agabo, com o qual não tinha contato há um bom tempo.

Caminhamos, um na direção do outro, e trocamos um forte abraço.  

- Há quanto tempo!  -  Disse Agabo.

- Olá, cara!  Faz muito tempo mesmo que não nos vemos!  Tá lembrado da nossa última conversa!  Até publiquei no Blog "O Aríete"!?

- É!  Faz muito tempo mesmo!

- E aí, continuas com teus equívocos!? Caminhando e levando todos que te seguem para lugares incertos? -  Indaguei.

- Que nada Alethea!  A vida tem me ensinado...

- O quê!?  Não me diga!?  Ensinado o que, por exemplo?

- Ah!  Sabe aquela coisa de ficar dando muito valor ao alheio, ao que não te pertence...?  que não é da região onde você nasceu?

- Sei!  -  Respondi, curioso.

-  Pois é, velho!  Eu agora deixei de lado aquele hábito de seguir o canto da multidão e aprendi a marchar ao som da minha própria melodia!  -  Agabo pronunciou essa frase poética cheio de orgulho.

-  Não me diga!  E aí!  -  Incentivei-o a continuar.

- E aí, que eu deixei de fazer as coisas por imitação... sá cumé qui é, né!?

- Sei claro!  Um certo dia, eu mesmo te aconselhei nesse sentido, lembra!?

-  Lembro sim!  Não cantar a mesma música... não pintar o mesmo quadro... não passar pelo mesmo caminho... não imitar outras pessoas... não torcer por um time de futebol que nunca viu jogar num estádio... Foi isso que você um dia me aconselhou, correto!?.

-  Humm!!!  Tô lembrado! Só que aqui em Alécia quase nada mudou.  O que que mais se vê é gente que se deixa levar pela influência da mídia... especialmente da "vênus platinada"!

-  Pois é, cara...  Estou deveras mudado!

-  Mas, como foi isso... assim tão de repente!?

-  Velho... eu comecei a pensar...  pensei nos grandes inventores de todos os tempos: será que eles imitaram alguém?  Será que eles tentaram repetir o que já havia sido feito?  O Thomas, da lâmpada... o Sabin, da vacina... o Leonardo... e tantos outros! E os lugares que já alcançaram um elevado nível de desenvolvimento? seguiram uma receita ditada por outros? ou criaram sua própria receita? 

-  Então, você rompeu com aquela mesmice que é marca registrada do povo de Alécia e, praticamente, de quase todo nordestino?

-  Foi!  E cheguei à conclusão de que o estágio de subdesenvolvimento em que nos encontramos se deve a isso...

-  Isso, o quê!?

- Ao fato de darmos valor ao alheio em detrimento do que é nosso!

-  Ah! Então você aprendeu is...

-  Sim, aprendi!  -  Interrompeu Agabo, ansioso por continuar falando.  -  Inclusive, deixei de torcer pr'aquele time do Rio... só pr'aquele não! não torço pra nenhum time de fora!  Só torço para times da Bahia! Os de fora, só quando estão representando o Brasil, como o Santos, agora, na Libertadores!

-  Que mudança, hein cara!  -  Elogiei.

- É... Descobri duas coisas...

- E quais são?  -  Perguntei.

-  Primeiro, que estava me comportando como um bobão e fazendo parte da "Vergonha do Nordeste".  Depois, compreendi que...

O homem que sabe ler e não lê, tem pouca vantagem sobre um analfabeto!



- Pô, velho...  Você até parece um filósofo!  Acho bom até mudar de nome!  Que tal mudar para Abnara, "A Luz da Sabedoria"!?

- Tá brincando, Alethea!

Saímos dali e fomos beber uma gelada no Barrakitika. Meu amigo Agabo tinha mesmo passado por uma grande mudança. Pena que a maioria dos nativos de Alécia ainda insistam na tolice de achar que o que é bom vem do sudeste, isso quando não recorrem a padrões eurocêntricos.

Por: Souza Neto

segunda-feira, 8 de julho de 2013

477... Em 2012, serão 478!

Não!  Não é o número de um vôo!

É uma contagem de tempo... Tempo que levou um burgo e sua gente a profundezas abissais!

O cotidiano dos trabalhadores... o odor forte do suor das mulas... secadores, cochos e caçuás... "ocupações" de criança de roça...

Reminiscências de menino num fragmento desse tempo. 

Um dia, o menino deixou uma das províncias de Alécia e o sibilar de seus alísios esvoaçantes para trás. 

Foi "surfar" o Atlântico! Três décadas ininterruptas no desiderato de bem cumprir uma missão.  

Andanças propícias à emancipação e ao senso crítico, quando bem aproveitadas.

A roda do mundo andou... continua andando...

Observo Alécia!

Contrariando a inexorável roda  do tempo e marcada pela insanidade dos próprios rebentos, Alécia estacionou!
O bailar das ondas, ainda que incessante e alvissareiro, nada trouxeram! 

Aos poucos, os "forasteiros" nascidos em tuas entranhas vão retornando. Aqueles que passaram a enxergar além das cercas e possuem honestidade de propósitos, exortam teu povo ao "arregaçar de mangas". Começam a incomodar... É natural o brandir dos açoites pelos teus rebentos mais insanos que aqui permaneceram enchendo as algibeiras e manipulando as visões mais estreitas com bridões e antolhos.

Passaram anos impedindo os "sem direitos" de galgarem a linha do horizonte... De, a cada horizonte conquistado, enxergarem novos horizontes... e, infinitamente, novos horizontes...

Mas, tudo tem tempo, tem hora! Esse tempo é agora!

Fala-se de construção de ponte...Ligar nenhures a algures e alhures.  Comenta-se sobre zona franca, aeroporto, ferrovia...

Sim!  É preciso construir uma "PONTE"! 

O mais importante é a "PONTE"!

Uma "PONTE" que supere o abismo criado pelos homens! Isso não se alcança simplesmente com cimento, pedras e trilhos! 

Fazem-se necessários novos comportamentos, despidos de egoísmos, com honestidade de propósitos e visão de futuro! 

Uma reforma íntima de cada um de seus habitantes!

Como último e necessário recurso, far-se-á o alijamento dos refratários à reforma pessoal da vida pública.  Não devem permanecer, como "resíduos" nocivos à sociedade, a dar o tom e os rumos de Alécia!
Contudo, tudo não passa de um sonho. De um lado, grandes possibilidades de um retorno ao passado... De outro, o próprio passado reunindo-se em assembléias para a manutenção do status quo.

Sem mudanças concretas, novas pontes, viadutos, aeroportos, duplicação de estradas, ferrovias, "zepeéis", não passam de vãs realizações! 

Acorda, Alécia!!!

Por: Souza Neto  -  Escrito originalmente em 10/01/2012

DIÓGENES VISITA ALÉCIA (REPUBLICANDO)

O Astro Rei estava totalmente encoberto por espessas nuvens negras.

Do céu, incessantes e finos pingos d'água teimavam em cair sobre Alécia.

Estávamos  -  eu e Adalta  -, nos dirigindo ao aeroporto Jorge Amado para recepcionar um amigo vindo de muito longe.

Ainda no saguão, avistamos Diógenes no aguardo da liberação de sua bagagem.

Do lado de fora, pudemos ouvir a voz rouca do Diógenes dirigindo-se a um funcionário do estabelecimento:

- Cuidado! - Tem coisa frágil aí dentro... pode quebrar!

Adalta e eu nos entreolhamos e devemos ter pensado juntos:

"Deve ser a tal lamparina!"

Eu mal podia acreditar!  Em pouco, estaria diante de duas das mais expressivas e probas figuras da Grécia Antiga: Adalta, a Espiritualizada e Diógenes, o Filósofo que dedicou a vida na busca de um homem honesto, com sua lamparina!

E o que era mais importante: poderia dialogar com elas!

Assim que ultrapassou a porta que separa a sala de desembarque do saguão, o ex-discípulo de Antístenes acenou em nossa direção.

Nos aproximamos para recebê-lo...

- Olá, Adalta  -  disse Diógenes  -  Esse daí deve ser o Alethea de quem você tanto fala!

- Seja bem-vindo, Diógenes de Sínope. - disse Adalta, acrescentando  -  Sim, este é o grande Alethea!

- Olá, Alethea!

- Como vai filósofo?

- Tudo bem... mas, não me chame assim! - exclamou Diógens  -  Você já viu filósofo mendigando nas ruas e morando dentro de um barril?!

É que o Diógenes de Sínope, depois de ter deixado a companhia de Antístenes, passou a perambular pelas ruas de Atenas e Corinto, fazendo da pobreza extrema uma virtude. Sua casa era um barril.

- Ora! mas isso é uma opção que qualquer um que esteja contrariado com os rumos da sociedade pode tomar, como forma de protesto! Ninguém, em sã consciência, deve cruzar os braços diante da corrupção! -  Tentei justificar.

- É, você tá certo! Quando se está impotente diante de uma situação dessas, só resta o protesto!  - assentiu Diógenes.

-  Mas, deixemos os problemas atenienses pra lá! vamos ao que interessa neste momento...  -  disse Adalta, com certa ansiedade  -  O que o traz aqui em Alécia, Diógenes?

- Você não vai acreditar!  Ganhei duas passagens aéreas e a estada de uma semana no Brasil! Foi num concur...

- Mas, por que a escolha de Alécia?! - interrompe Adalta.

- Andei lendo alguns contos de um escritor local muito conhecido por lá... Jorge..., acho que é esse o nome!

- Ah! o Jorge Amado!  -  exclamou Adalta.

- Sim, esse mesmo!

- Olha!  talvez você não saiba, mas, o "Contador de Estórias" já silenciou! Ele agora está morando em outro lugar!

Disse e completei, perguntando:

- O que você espera encontrar por aqui?!

- Oh! quem sabe... algum outro homem honesto!  Se não um escritor... quem sabe, um político!


- Hummm...! por isso que você trouxe sua famosa lamparina, né!?

- Ah!  você conhece a história, Alethea?

- Como não!?

- Bem... é isso... vou aproveitar o tempo passado aqui em Alécia para iss..!

- Pois vai perder seu tempo!  -  interrompeu Adalta, com certa rispidez.

E foi completando:

-  Aqui, você vai gastar todo o gás de sua lamparina e não irá iluminar uma fronte sequer de um honesto! Muito menos, se for político!

- Ma...  -  tentou ponderar Diógenes.

- E tem mais, caro Diógenes, em Alécia também não tem estátuas...! Ou melhor, tem somente uma... a de uma protistuta grega chamada Sapho. Não sei se você a conheceu por lá!

Como eu não estava entendo a razão de Adalta ter se referido a estátuas, perguntei:

- Adalta, e onde é que entra estátua nessa história? Diógenes só deseja encontr...

Adalta  -  interrompendo-me  -  apressou-se em explicar:

- Uma vez, em Atenas, nosso amigo Diógenes foi visto falando com uma estátua... e quando lhe perguntaram o motivo de tal conduta, ele respondeu: 
"Por dois motivos: primeiro é que ela é cega e não me vê, e segundo é que eu me acostumo a não receber algo de alguém e nem depender de alguém."
Levamos o Diógenes até a pousada indicada pela agência de turismo e, antes de nos ausentarmos, aproveitamos para deixar um conselho ao nosso ilustre visitante:

- Diógenes, sugerimos que você aproveite todo o seu tempo livre para descansar, tomar banhos de mar e provar da culinária local.  - disse Adalta.

Prosseguiu Adalta, fazendo outro alerta:

- Tenha cuidado com a lixarada e os ratos que podem ser encontrados nas ruas!  Não queremos que você volte para Atenas cheio de doenças!

- É... quando for a um barzinho ou restaurante, peça uma caipirinha!  -  completei.

Adalta, mais uma vez, alertou:

- E nem pense em ir a "Tabocas das Pedras Pretas"! Essa província vizinha a Alécia não é diferente!  A canalhice e a esculhambação também reinam por lá!

- Nem utilizando todo o combustível do Gasene na sua lamparina, você encontrará um honesto em Alécia ou Tabocas! Especialmente, se for no meio político!  -  dissemos juntos.

Durante todo o tempo em que o filósofo Diógenes de Sínope permaneceu em Alécia ele seguiu nossa recomendação ao pé da letra.

Curtiu o quanto pode as belezas de Alécia e nem retirou a lamparina da bagagem!

Autor: Souza Neto  - Escrito originalmente em 30/06/2011.

Souza Neto, J. A.  -  nascido debaixo dum pé de cacau, na cidade de Canavieiras (BA), é Marinheiro, Professor-Regente do Magistério da Bahia e Membro da Academia de Letras e Artes de Canavieiras (ALAC).