No final dos anos 70, tive um contato muito próximo com brasileiros do Sul, muito especialmente com a "gauchada" de Uruguaiana.
Não, eu não fui designado para servir em Uruguaiana, como alguns podem estar pensando... Os gaúchos de Uruguaiana é que vieram para o Rio de Janeiro.
A Marinha (Corpo de Fuzileiros Navais) havia decidido extinguir o Grupamento de Fuzileiros Navais de Uruguaiana. Com isso, toda a "gauchada" que servia naquela Unidade foi movimentada para organizações militares sediadas no Rio.
Pra qualquer canto que se ia, dentro dos quartéis de Fuzileiros, lá estava uma leva de gaúchos chorosos e com saudades de Uruguaiana.
Uruguaiana é uma das cidades gaúchas mais isoladas. Fica na fronteira nas margens do Rio Uruguai e a cidade mais próxima é Paso de los Libres, do outro lado do rio, no Uruguai.
Bem, o fato é que a gauchada estava no Rio... Era uma oportunidade ímpar de convivermos com aqueles brasileiros do Sul e aprender um pouco com eles. Nós, muito embora não sendo cariocas, estávamos bem adaptados à capital fluminense. Logo percebemos que os gaúchos recém-chegados precisavam do nosso apoio. Não eram poucos os que pensavam em até desertar para voltar a Uruguaiana. Nessa tentativa de apoiá-los, começamos a conhecer um pouco a cultura sulista.
Uma das coisas que aprendemos é que o respeito por lá é coisa sagrada. No Rio, a gauchada estranhava quase tudo: a liberalidade do carioca era o que mais chocava.
No Rio Grande, por exemplo, mexer e jogar uma piada para uma "guria" na rua podia até dar cadeia, diziam eles. Era só a "guria" chamar alguém da Brigada Militar é o "ousado" ia ver o "sol quadrado" no xilindró. Tocar músicas com letras de duplo sentido, então, nem pensar! Havia leis proibindo (e ainda deve ser assim). Imagine se esses caras tivessem vindo para a Bahia ou outro estado nordestino!
Aqui, tudo é permitido! Letras de músicas de putaria e fuleiragem são comuns... é o que mais se ouve! No entanto, precisamos atentar para uma coisa: queremos ser destinos turísticos! Para sermos destinos turísticos precisamos estar preocupados com o que agrada e o que desagrada àqueles que recebemos. Àqueles que vão deixar aqui a "bufunfa" para o "caviarzinho" de cada dia.
Nossa região normalmente recebe gente de Goiás, Distrito Federal e Minas. Ora, a cultura por lá é outra! Músicas com letras fuleiras, que satisfazem o gosto de alguns por aqui, não são apreciadas pelos brasileiros desses estados.
O que é que eu quero dizer com isso?
Que, se quisermos continuar a ser destino turístico para goianos, candangos e mineiros, precisamos controlar a nossa "cultura", ou a falta dela.
Nenhum goiano, candango ou mineiro quer expor a sua família ao constrangimento de ficar ouvindo coisas como: "já chupou xibiu? chupei! gostou de chupar xibiu? gostei!", "minha mãe vai abrir um puteiro, pra ganhar dinheiro", "eu vou enfiar... no céu da sua boca, chupa toda, chupa toda"... só pra citar alguns exemplos.
Esse é apenas um dos nossos problemas... Se queremos o Turismo como uma das fontes de renda da região, precisamos repensar um pouco sobre o que aqueles que nos visitam esperam encontrar aqui!
Vou reprisar aqui uma frase que uma amigo de Olivença ouviu de uma senhora mineira:
"Nunca mais voltamos aqui! É inadmissível que pessoas de bem tenham que ficar ouvindo alguém cantando que vai 'chupar um xibiu'."
Essa senhora, depois de ter ouvido tanta fuleiragem, bem que poderia ter começado a frase com um...
"PUTA QUE PARIU...!"
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