sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A SENHA NOSSA DE TODOS OS DIAS


A Senha  

O mundo virtual tomou conta da vida de todos nós. Eu disse de “TODOS”!  Vai ter alguém aí dizendo que está livre dessa.  Mentira!  O virtual está no banco, no INSS, e no raio que o parta!  Onde o meu nome (e o seu), minha identidade (e a sua), pouco importam.  Eu sou um número, uma senha. Você, que tá lendo, também não passa disso. Não adianta espernear! Resumindo, fomos TODOS simplesmente reduzidoS a um cartão magnético e uma senha.

Aí, você vai dizer: "Mas, isso não é de hoje..." Até concordo... Há uma praga de senha ou número, – chamem como quiserem  –  que nos acompanha desde o nascimento. Quando nasci, meu pai foi ao cartório e ganhei a primeira senha.  Uma chave numérica composta de número do  Registro, do Livro e da Folha, onde foi escrito: JOSÉ ANTÔNIO DE SOUZA NÉTO  – assim mesmo, como está grafado.  

Depois desse acontecimento, fui obrigado a apresentar uma cópia com essa chave ou senha em todos os lugares onde precisava me fazer conhecido. E não demorou muito, ganhei nova senha, chamada “cadastro de pessoa física” ou simplesmente CPF, para os mais íntimos.  Aí a coisa não parou mais... Na Marinha recebi o “número de identificação de pessoal” (nip), o cartão de identificação, o número do PASEP, um número interno, que me identificava no Batalhão, na Companhia e no Pelotão.   

A Internet, claro, é extraordinária...  Mas se a gente não tomar cuidado ela toma conta de nossa vida. Hoje, no mundo virtual, as senhas estão por toda parte.  Nos meus hábitos “internéticos” tenho senha para iniciar meus computadores, senha de e-mails, de blogs, etc.  E, quase sempre, quando desejo acessar um site lá está a exigência de um cadastramento... com o chamado “username” e a senha, claro.  Mesmo depois de cumprir esse primeiro ritual ainda sou  convidado a completar meu cadastramento preenchendo um prontuário que mais parece um interrogatório de inquérito policial.

Do jeito que a coisa vai, fico imaginando alguém criando senha para “operação” em vaso sanitário.  Você ta lá sentado, e na hora “agá”, uma voz de fundo de vaso anuncia: “digite sua senha”!  E o que é pior... Vai que naquele momento de aperto você tenha se esquecido da danada!

Imagina, na hora de amar... Cara, senha para amar é demais!  Putzzz! Você ta lá, quase "conectado", querendo chegar à "plenitude", quando uma voz interrompe e diz: “digite seu “password” para fazer “login” e "conectar”.  Introduz palavras em inglês só pra complicar, quando, na verdade, você só queria mesmo era ouvir "introduza".  Aí você reage: “Pô,velho, assim não dá, eu já tava quase logando”.  Vai ter que parar, lembrar a senha, e voltar a “logar” novamente.  Resta saber se a sua “ferramenta” de “logar” ainda vai estar apta para executar o serviço. Pior que isso é receber uma das seguintes respostas: “sua senha está incorreta”, “ usuário e senha não conferem”, “seus dispositivos são incompatíveis...”, “esqueceu a senha?, reinicie a sessão”.  Coisa de doido, velho!

Lembro-me que um dia o Drummond (o Carlos... de Andrade) escreveu em um de seus livros que “A palavra é a senha da vida... a palavra é a senha do mundo.”  Embora tardiamente, aproveito para responder:  “Isso foi no seu tempo Drummond!”  Hoje o sistema é bruto, se você não digitar a senha, sifu...”

Nota: Claro que o Drummond estava dando uma conotação diversa dessa que utilizo e, mesmo contestando-o, neste Blog faço uso, todos os dias, da "senha da vida e do mundo"

Autor: Souza Neto (na data da postagem)

Souza Neto, J. A. é Oficial Superior da Marinha, Professor do Magistério da Bahia e Membro da Academia de Letras e Artes de Canavieiras (ALAC).

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