terça-feira, 1 de março de 2011

CARNAVAL É INVESTIMENTO


Agasias entra na sala acompanhado de Adrastea.  Todos os alunos já estão em seu interior e respondem, em sonoro coro, o boa noite.

Agasias estava ali como convidado. Adrastea, mestre em Sociologia, precisava de seus conhecimentos para melhorar o entendimento dos alunos a respeito de um tema transversal que fora debatido na aula anterior e que não teve um resultado satisfatório: "Gastos públicos em festas populares de cidades turísticas".

Incialmente, Agasias procurou demonstrar como uma cidade turística pode e deve fazer uso de seus recursos naturais, de suas festas e, principalmente, de sua história, visando atrair grande número de visitantes. E foi dizendo que existem cidades no Brasil que  sustentam sua economia no consumo dos visitantes. Citou como exemplo a cidade de Natal, onde morou.  

O nosso caso aqui são as festas. - Disse Agasias.  - Elas constituem um dos vetores que mais atraem as pessoas.  Mas, exigem gastos públicos (e em certos casos privados, em parceria) para que sejam atraentes e capazes de trazer visitantes.  - Explicou.

No decorrer da apresentação, Agasias tinha combinado que os alunos poderiam solicitar momentos para fazerem intervenções durante sua fala.

O primeiro foi Anésio:

- Professor, não acho que o administrador público deva gastar dinheiro com festas pra gente de fora!  Tem tanta coisa precisando na cidade!  -  Sentenciou Anésio.

- Anésio...  -  Diz Agasias pacientemente.  -  Eu não vou discordar de você... mas, vamos usar um raciocínio... Vamos analisar um situação hipotética...

- Vamos, professor!  - Concordam todos.

- Imaginemos que uma cidade tem um prefeito muito bonzinho.  A cidade dispõe de recursos suficientes e ainda pode obtê-los junto a órgãos do Estado, mediante a apresentação de projetos...

- Mas, ele pode usar esse dinheiro em outras coisas!  -  Insiste Anésio.

- Não, não pode! Nesse caso não! -  Replica Agasias.  - É dinheiro com destinação específica. Só pode ser aplicado em eventos culturais ou turísticos, entendeu!?

- Ahn.. sei...

- Pois é, gente!  Será que o prefeito pode fazer com que essa grana, ou parte dela, ou até mais do que ela, seja distribuída entre os moradores da cidade?

- Nãããoooo!   -  Exclama a maioria.

- Poooddeee!!!  - Responde Agasias, com irreverência.

-  Como professor!?  -  Os alunos questionam inquietos.

- Simplesmente fazendo festas!

- O quê! Festas!?  - Novo burburinho toma conta da sala.

- Calma gente! Vou explicar.

Agasias passa às explicações:

- Vocês estão certos quando afirmam que o prefeito não pode distribuir o dinheiro entre os moradores da cidade.  Não pode fazer isso diretamente, mas existem outras maneiras...

- Como!?  - Perguntam os alunos ansiosos.

- Uma dessas maneiras é a realização de festas.  Observem!  Quando as festas são de boa qualidade elas atraem turistas, não!?

- Sim, claro!  -  respondem todos.

-  Pois bem... Quantas pessoas da cidade trabalham e ganham dinheiro nas festas?

- As bandas que vem de fora...!  -  Anésio e outros foram logo dizendo.

- Tudo bem... elas também ganham, mas não entram na nossa conta. São de fora, lembram!?   Vou citar aqui alguns ofícios.  - Continua Agasias. - Toda vez que vocês acharem que a pessoa que exerce esse ofício não ganha dinheiro com as festas, vocês podem me interromper.

E Agasias foi citando uma imensa lista:

- Pipoqueiro, baiana do acarajé, taxistas, o homem que vende algodão-doce, os capeteiros...

Agasias não conseguiu terminar.  Os alunos começaram, em balbúrdia, a desfiar um interminável novelo de gente que ganhava dinheiro com as festas:

- ...o pessoal que vende latinha no isopor, os donos dos bares, dos restaurantes, das pousadas... de... dos... das...

Os alunos ficaram hesitantes por um tempo e Agasias interveio:

-  Vocês estão se esquecendo do comércio varejista, dos barraqueiros, dos donos de embarcações de passeio, dos postos de combustíveis, dos artesãos, dos guias de turismo, dos funcionários dos estabelecimentos...  E o que é mais importante, o dinheiro circulando aquece a economia local, gerando novos empregos e melhorando a arrecadação de impostos da própria Prefeitura.

- É professor... o senhor está certo! Eu estava pensando diferente!  -  Exclamou Anésio.

-  Pois é, gente! E nesse caso não importa muito se o valor “gasto” correspondeu ao valor “ganho”. O ideal é que os visitantes tragam e gastem mais do que a cidade investiu... Opa! Vejam o verbo que usei: “investir”.  Então, podemos concluir que não foi “gasto”, foi investimento.

E Agasias concluiu sua intervenção em sala dizendo:

- Notaram quanta gente da cidade ganhou dinheiro nessa história? Estão lembrados da pergunta que fiz no começo sobre a distribuição de dinheiro da Prefeitura entre os moradores?  Dessa forma, vocês concordam que o prefeito distribuiu o dinheiro ("gasto") entre os moradores?  Que os moradores estão vivendo mais felizes? E quanto mais gente vindo e gostando, mais ainda gente virá... Vocês concordam!?

- Conncoorrdamosss! -  responderam todos.

Agasias  abraçou Adrastea, agradeceu a oportunidade, deu tchau pra turma e saiu. Saiu consciente de que a partir daquele momento os alunos iriam ter uma opinião diferente a respeito de gastos públicos em festas populares.

Autor: Souza Neto (01/03/2011)  - A uma semana do Carnaval.

NÃO ESQUECENDO DE LEMBRAR QUE A REALIZAÇÃO DE FESTAS NÃO É TUDO!  NÃO RESOLVE OS PROBLEMAS DE ALÉCIA, QUE PRECISA DE ADMINISTRADORES COM VISÃO EMPRESARIAL E DE FUTURO!

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