sábado, 14 de maio de 2011

DESABAFO (DESCULPEM-ME)

Já disse, aqui,  zilhões de vezes que nasci nestas bandas.  Pra ser mais exato, debaixo de um secador de cacau.  Senti aquele cheiro peculiar de amendôas fermentadas e secas até os sete anos. Nesse período, entrei muitas vezes nas plantações de cacau;  algumas a pé, outras montado nas cangalhas das mulas.  Assistia as podas, a colheita no podão, a quebra, a feitura das bandeiras (montes) de amêndoas sobre lonas ou folhagem, o transporte nas caixas de madeira ou cassuás, a colocação nos cochos de fermentação, a secagem, ao sol, nas barcaças, o ensacamento, o armazenamento, o transporte para a cidade. Até a pulverização com o BHC ou o DDT me era familiar. Depois de uma dessas aventuras em meio a mosquitos e peçonhas, retornava à sede da fazenda feliz e, geralmente, com uma carga de laranjas, limas, cajás e jenipapos, quando estava na época.

Passei um tempinho fora:  31 anos. Precisava arrumar a vida e aqui não enxergava como.  Olhava o patrimônio do meu avô: quatro fazendinhas de cacau e algumas terras nuas que, naquela época, nada valiam.  Isso tinha que ser dividido pelos seus quatro filhos, entre eles o meu pai.  O que meu pai recebesse teria que ser partilhado por mais quatro  -  eu e meus três irmãos.  Acho que fui inteligente.  Deixei tudo pra trás e cai no mundo!  Fiz o meu mundo, arrumei a vida...  Há pouco mais de dez anos voltei.

Desde essa volta, reluto em ligar o umbigo de novo aqui.  Por isso, tenho preferido morar de aluguel... e isso há quase onze anos.  Seguindo sugestão da mulher, estava me decidindo a adquirir um imóvel residencial em Ilhéus.  Ainda não conversei com ela, mas, já estou começando a desistir da ideia.

Estou chegando à conclusão de que não vale a pena investir dinheiro por aqui.  Os empreendimentos estruturantes do governo federal estão empacados e as pessoas parecem não ter noção do que representam. As ONGs ambientalistas financiadas pela nata dos países que detêm a hegemonia econômica no mundo e não querem perdê-la, deitam e rolam por aqui!


Regressei em 2000.  No ano de 2001 escrevi isto:



RAZÃO E MARTÍRIO

Há dias em que amaldiçôo e desprezo minh'alma pela instrução recebida.
Pelo conhecimento sorvido nas leituras que varavam noites.
Pela visão concreta de lugares tão diferentes e tão iguais.
Pela visão dilatada da íris do meu olho que vê, além das cercas ...
Não se sofre pelo que não se vê; pelo que não se é capaz de emitir juízo...
Ainda hoje, vejo meu povo adormecido; anestesiado pelo rufar dos atabaques e por odes cujas letras nada exprimem.
Musicalidade alienante, fomentada, engendrada pela mídia insidiosa das hordas opressoras no poder.
O que, em mim, parece lamentos deveria ser louvores, pelas mudanças e libertação do meu eterno espírito através dos tempos; pela excreção dos atavismos, dando morada à razão.

Mas, essa mesma razão, martiriza, fere, flagela.

(Souza Neto  - 2001)


Nesses quase onze anos na região tenho deixado minha contribuição: já investi cerca de 1 milhão e 500 mil aqui, como consumidor.  E compro tudo por aqui.  Raramente vou a Salvador ou ao Rio.  Recursos que não são auferidos diretamente aqui.  Vêm de fontes externas à Bahia.


Estou pensando seriamente em dar um basta nisso. Atualmente, o principal óbice é a faculdade de meu filho, por ainda faltarem dois anos para sua conclusão. Mas, isso pode ser resolvido com transferência.


Qualquer dia desses posso estar dizendo:


"Adiós pueblo de Alécia!"


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