Já disse, aqui, zilhões de vezes que nasci nestas bandas. Pra ser mais exato, debaixo de um secador de cacau. Senti aquele cheiro peculiar de amendôas fermentadas e secas até os sete anos. Nesse período, entrei muitas vezes nas plantações de cacau; algumas a pé, outras montado nas cangalhas das mulas. Assistia as podas, a colheita no podão, a quebra, a feitura das bandeiras (montes) de amêndoas sobre lonas ou folhagem, o transporte nas caixas de madeira ou cassuás, a colocação nos cochos de fermentação, a secagem, ao sol, nas barcaças, o ensacamento, o armazenamento, o transporte para a cidade. Até a pulverização com o BHC ou o DDT me era familiar. Depois de uma dessas aventuras em meio a mosquitos e peçonhas, retornava à sede da fazenda feliz e, geralmente, com uma carga de laranjas, limas, cajás e jenipapos, quando estava na época.
Passei um tempinho fora: 31 anos. Precisava arrumar a vida e aqui não enxergava como. Olhava o patrimônio do meu avô: quatro fazendinhas de cacau e algumas terras nuas que, naquela época, nada valiam. Isso tinha que ser dividido pelos seus quatro filhos, entre eles o meu pai. O que meu pai recebesse teria que ser partilhado por mais quatro - eu e meus três irmãos. Acho que fui inteligente. Deixei tudo pra trás e cai no mundo! Fiz o meu mundo, arrumei a vida... Há pouco mais de dez anos voltei.
Desde essa volta, reluto em ligar o umbigo de novo aqui. Por isso, tenho preferido morar de aluguel... e isso há quase onze anos. Seguindo sugestão da mulher, estava me decidindo a adquirir um imóvel residencial em Ilhéus. Ainda não conversei com ela, mas, já estou começando a desistir da ideia.
Regressei em 2000. No ano de 2001 escrevi isto:
RAZÃO E MARTÍRIO
Há dias em que amaldiçôo e desprezo minh'alma pela instrução recebida.
Pelo conhecimento sorvido nas leituras que varavam noites.
Pela visão concreta de lugares tão diferentes e tão iguais.
Pela visão dilatada da íris do meu olho que vê, além das cercas ...
Pela visão concreta de lugares tão diferentes e tão iguais.
Pela visão dilatada da íris do meu olho que vê, além das cercas ...
Não se sofre pelo que não se vê; pelo que não se é capaz de emitir juízo...
Ainda hoje, vejo meu povo adormecido; anestesiado pelo rufar dos atabaques e por odes cujas letras nada exprimem.
Musicalidade alienante, fomentada, engendrada pela mídia insidiosa das hordas opressoras no poder.
Musicalidade alienante, fomentada, engendrada pela mídia insidiosa das hordas opressoras no poder.
O que, em mim, parece lamentos deveria ser louvores, pelas mudanças e libertação do meu eterno espírito através dos tempos; pela excreção dos atavismos, dando morada à razão.
Mas, essa mesma razão, martiriza, fere, flagela.
(Souza Neto - 2001)
Nesses quase onze anos na região tenho deixado minha contribuição: já investi cerca de 1 milhão e 500 mil aqui, como consumidor. E compro tudo por aqui. Raramente vou a Salvador ou ao Rio. Recursos que não são auferidos diretamente aqui. Vêm de fontes externas à Bahia.
Estou pensando seriamente em dar um basta nisso. Atualmente, o principal óbice é a faculdade de meu filho, por ainda faltarem dois anos para sua conclusão. Mas, isso pode ser resolvido com transferência.
Qualquer dia desses posso estar dizendo:
"Adiós pueblo de Alécia!"
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