sábado, 12 de março de 2011

ELEIÇÃO, NO TEMPO DO CABRESTO E DO BICO DE PENA

Será que de lá pra cá alguma coisa mudou?

Na época do "bico de pena", a eleição era "aberta".  Ou seja, o votante não tinha a privacidade do voto.  Este não era secreto, como hoje. Os "cabôcos" das fazendas de cacau, "escolhiam" os candidatos conforme a vontade do "coroné"

Eu ainda não tinha nascido... Não pude presenciar a cena, mas cheguei a conhecer um dos protagonistas.

Não pensem que vou dizer o nome do "santo"!  Vou não!  Nem que me matem!  Até porque o "santo" já  foi pra cidade de "pés-juntos".

Ah!  O nome da fazenda posso dizer.  Não muito bem da fazenda, mas de uma sede que reunia moradias de capatazes e outros braçais de diversas roças de cacau.  Chamava-se Barreiras (ou melhor chama-se, pois ainda está lá no mesmo lugar, em ruínas) e fica na margem direita do Rio Pardo nas imediações do Distrito de Jacarandá, em Canavieiras.

Chega o dia da eleição... O coroné "encarregado" da eleição em Barreiras acordou cedo (imagino) e tomou todas as medidas necessárias ao bom andamento do pleito.  

Chegado o instante da eleição, o primeiro cabôco da fila ia logo enfiando o dedão na almofada regada a tinta nanquim (devia ser nanquim, né!?).  Devidamente molhado, o "mata-piolho"  era cuidadosamente guiado pelo coroné até onde devia deixar o "retrato digital". 

Depois de ter votado, o cabôco recebia de volta seu título, que (geralmente) estivera de posse do coroné nos dias que antecederam a eleição.

Mas, esse cabôco era "forgado".  Assim que recebeu de volta o título, dirigiu a seguinte pergunta ao coroné:  "In quém quieu vortei mermo, coroné?"  O coroné, demonstrando surpresa e irritação pela insolência do cabôco, olha pros "capangas" ao lado e responde: "Tu num sabe qui o voto é secreto, seu analfabeto?"  Olhando em volta, o cabôco havia notado  a presença ameaçadora dos "capangas" do coroné. Amofinado, dá um grunhido quase inaudível: "In nhé!"  E sai de mansinho e arrependido de ter feito a pergunta.

Refaço a pergunta do início dessa conversa:  "Será que de lá pra cá alguma coisa mudou?"  

Não sei a sua resposta, mas aproveito pra dar minha:  

"Sim, mudaram os métodos... O cabresto assumiu novas facetas e o voto de curral continua!"

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