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Eu e alguns amigos, na época de universidade, pregamos certa vez uma pequena peça em outros colegas. Chamamos isso de “Armadilha da Repetição Infinita”.
Aplicamos a armadilha enquanto se travava um debate sobre algum tema, que não me recordo agora. A gente sabotava o debate da seguinte maneira: a discussão ia evoluindo inicialmente sem a nossa presença. Quando se estava aproximando de seu termo, um de nós aparecia e exigia que o debate fosse reiniciado para incluir, democraticamente, o “nosso direito” de argumentar, ser ouvido.
Como éramos em número razoável, conseguimos, por brincadeira, fazer uma discussão que demandaria algumas horas durar uma tarde inteira. E prosseguiríamos indefinidamente, não fosse um dos demais que estavam debatendo desde o início se exasperar, percebendo que esse procedimento acabaria tornando o debate interminável.
Assim é a Democracia. Não é de se surpreender, aliás. Dialeticamente, é esperado que ela traga, como outros fenômenos sociais, a essência da sua negação dentro de si mesma. Ao respeitar seguidamente o direito de expressão de todos, permitindo que o debate seja infinitamente reiniciado, fazemos com que a Decisão, objetivo do debate, jamais seja tomada. Dessa forma, usando a Democracia nós negamos um preceito sagrado dela mesma: o respeito à vontade da maioria.
Porque, se levada ao extremo, a Democracia impede a si mesma de existir.
É por isso que os processos decisórios impõem prazos para os debates: há uma data para se realizar as eleições, ou o debate jamais permitiria que estas acontecessem. Da mesma forma acontece nas consultas públicas, nos tribunais, nos sindicatos, nas comunidades em geral. Para salvaguardar a Democracia é preciso regular ela própria.
O Bispo de Ilhéus, Dom Mauro Montagnoli, afirmou que o Complexo Intermodal precisa ser discutido mais profundamente. Leia aqui.
Cabe respeitar a opinião do Bispo, evidentemente. A princípio, não se vê nenhum problema em discutir nada “mais profundamente”. Pessoalmente acho ótimo.
O debate, aliás, deve permanecer vivo. Deve existir antes, durante e depois da execução dos projetos. Quaisquer que sejam eles.
Mas sempre há o risco de, ao retomarmos seguidamente a discussão, acabarmos caindo na “armadilha da repetição infinita”. Nada contra o debate. Mas não podemos correr o risco de que a retomada do debate seja usada como arma contra a própria Democracia, ao impedir que se estabeleça a vontade da maioria.
Talvez a maioria já possua um ponto de vista assegurado a respeito do Complexo Intermodal. Talvez os trâmites legais de debate, com consultas e audiências, e os informais, com a imprensa, os blogs, tenham sido suficientes para que os argumentos fossem postos e as pessoas formassem sua opinião. Neste caso, apenas um fato ou argumento novo poderia mudar isso.
Se o cenário for esse, então retomar repetitivamente um debate que não mudará em nada a opinião das pessoas é inútil. Mais ainda, não serve a nenhum propósito senão o de sabotar a vontade manifesta das pessoas.
Usar a democracia como um artifício contra ela mesma.
Aplicamos a armadilha enquanto se travava um debate sobre algum tema, que não me recordo agora. A gente sabotava o debate da seguinte maneira: a discussão ia evoluindo inicialmente sem a nossa presença. Quando se estava aproximando de seu termo, um de nós aparecia e exigia que o debate fosse reiniciado para incluir, democraticamente, o “nosso direito” de argumentar, ser ouvido.
Como éramos em número razoável, conseguimos, por brincadeira, fazer uma discussão que demandaria algumas horas durar uma tarde inteira. E prosseguiríamos indefinidamente, não fosse um dos demais que estavam debatendo desde o início se exasperar, percebendo que esse procedimento acabaria tornando o debate interminável.
Assim é a Democracia. Não é de se surpreender, aliás. Dialeticamente, é esperado que ela traga, como outros fenômenos sociais, a essência da sua negação dentro de si mesma. Ao respeitar seguidamente o direito de expressão de todos, permitindo que o debate seja infinitamente reiniciado, fazemos com que a Decisão, objetivo do debate, jamais seja tomada. Dessa forma, usando a Democracia nós negamos um preceito sagrado dela mesma: o respeito à vontade da maioria.
Porque, se levada ao extremo, a Democracia impede a si mesma de existir.
É por isso que os processos decisórios impõem prazos para os debates: há uma data para se realizar as eleições, ou o debate jamais permitiria que estas acontecessem. Da mesma forma acontece nas consultas públicas, nos tribunais, nos sindicatos, nas comunidades em geral. Para salvaguardar a Democracia é preciso regular ela própria.
O Bispo de Ilhéus, Dom Mauro Montagnoli, afirmou que o Complexo Intermodal precisa ser discutido mais profundamente. Leia aqui.
Cabe respeitar a opinião do Bispo, evidentemente. A princípio, não se vê nenhum problema em discutir nada “mais profundamente”. Pessoalmente acho ótimo.
O debate, aliás, deve permanecer vivo. Deve existir antes, durante e depois da execução dos projetos. Quaisquer que sejam eles.
Mas sempre há o risco de, ao retomarmos seguidamente a discussão, acabarmos caindo na “armadilha da repetição infinita”. Nada contra o debate. Mas não podemos correr o risco de que a retomada do debate seja usada como arma contra a própria Democracia, ao impedir que se estabeleça a vontade da maioria.
Talvez a maioria já possua um ponto de vista assegurado a respeito do Complexo Intermodal. Talvez os trâmites legais de debate, com consultas e audiências, e os informais, com a imprensa, os blogs, tenham sido suficientes para que os argumentos fossem postos e as pessoas formassem sua opinião. Neste caso, apenas um fato ou argumento novo poderia mudar isso.
Se o cenário for esse, então retomar repetitivamente um debate que não mudará em nada a opinião das pessoas é inútil. Mais ainda, não serve a nenhum propósito senão o de sabotar a vontade manifesta das pessoas.
Usar a democracia como um artifício contra ela mesma.
- O autor é Professor da Universidade Estadual de Santa Cruz, em Ilhéus.Bahia.
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