Somaticamente, veio de mim... De mim, fez, quase exata, cópia... Recebeu todas as informações organizacionais, ao juntarem-se, em pares, 23 cromossomos. Para ser mais exato, do meu gameta, 22 autossômicos mais um "Xis"... Da tua mãe, a mesma parte. Assim, originamos você... feminina.
De você, pela primeira vez, afastei-me. Transcorria 2000. Deixei-a em Natal, onde você dava continuidade ao aprendizado do Direito. Chegamos a pesquisar e a estudar juntos, lembra? E aquele trabalho sobre o Rousseau!? Gabaritamos! No tempo devido, bacharela, você retornou ao Rio... Cidade que sempre a deixou maravilhada... Muito especialmente, ao bairro da Tijuca, onde moramos por muitos anos. Em 2006, nosso primeiro reencontro, quando nasceu seu irmão, bahiano-carioca. Três longos anos depois, em 2009, voltamos a nos encontrar. Pude, de novo, abraçá-la, beijá-la... Você estava radiante. A aprovação no exame da OAB justificava, lembra? Você não via a hora do compromisso e de receber a carteira da Ordem. Aproveitamos alguns momentos para passear pelas ruas do Rio, pelos shoppings... Matamos as saudades e reavivamos as lembranças da nossa Tijuca.
Você estava lendo "Amar... apesar de tudo". Lembra? Mal podia esconder seu encantamento com a espiritualidade do filósofo (Jean-Ives Leloud) e sua maneira de interpretar e pensar o Amor. Em duas folhas de caderno, floridas e muito bem recortadas, duas laudas rabiscadas de puro Amor. Depois de um ano meio guardadas, hoje, voltei a lê-las... Coisas belas, em sua bela caligrafia de menina. Os anos passam e, para mim, você permanece menina...
Talvez não se lembre... mas, você escreveu, dobrou ao meio e entregou-me, dizendo: "É pra você Papi!"
"Hoje, mais do que nunca, amar. Amar... a porta que dá acesso ao jardim." Assim, reproduziu um trecho do livro que estava lendo. Depois disso, abriu o coração para expressar todo o sentimento daquele instante. E, na mesma lauda, você prossegue:
"Primeiro livro dele que li. Ou fui por ele relida. Nada mais me prende se aprendo as dimensões do amar. Procuro ir em frente, apesar dos pesares. E no titubeio, volto-me para este olhar e me deixo olhar também."
"Primeiro livro dele que li. Ou fui por ele relida. Nada mais me prende se aprendo as dimensões do amar. Procuro ir em frente, apesar dos pesares. E no titubeio, volto-me para este olhar e me deixo olhar também."
Seu coração de menina desnuda-se, e vai, misturando sentimentos, juntando letras, numa harmonia ímpar. E continua...
"Amor extra.
Bônus de felicidade.
Meu pai chegou.
No meu momento ao contrário
Me olhou bonito
E entendeu o meu não entender.
Hoje senti saudades de ti
Saudades de te ter, de te abraçar.
Hoje senti saudades de ti
Saudades de te ver sorrir...
Saudades da tua face e teus olhos
Saudades de te olhar
Saudades da tua voz
Saudades de te ouvir falar.
Hoje olhei-me no espelho, pensei em ti
No escuro de meus olhos, vi saudade
Vi-te dentro do meu olhar, fiquei ali...
E fiquei nos meus olhos à vontade...
Pedi então a Deus pra adormecer
Que pudesse ver-te, ainda que a sonhar."
No fim, você escreveu, do jeito que vou escrever (entre aspas)
"(Em homenagem ao meu pai)"
Lu, tanto quanto eu, você sabe que a vida é perfeita e faz tudo certo (os erros são nossos). Que ela é muito rica e bonita e trabalha sem cessar para que possamos aprender a ciência de ser feliz.
Linda! Amo-a mais do que você possa imaginar!
Mil beijos... Para você, Alessandra e tua mãe!
Papi!
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