Cidadão mal formado é caldo de cultura para o totalitarismo e a corrupção
20/05/2012
Francisco Vianna
A formação do cidadão, no Brasil,
é uma das piores do mundo. Não adianta ficar pondo a culpa nas escolas
ditas “de ensino superior”, se o ensino fundamental e o médio são de
péssima qualidade. Crianças, mal educadas e mal ensinadas, passam de ano
como se a finalidade da escola fosse apenas exarar um certificado ao
final dos cursos. O sistema educacional em vigor é equivocado e
criminosamente mantido por uma seara acadêmica de professores mal
preparados, mal pagos, estressados, sem segurança funcional e com alunos
que passam de ano com aproveitamento ruim e abaixo do que se poderia
conceber como nível de corte para isso.
A educação, quase sempre não
recebida em casa ou na escola, favorece o crime, o uso de drogas, a
rebeldia contra os valores morais e civilizacionais cristãos e
estabelece condutas de agressão e desrespeito aos semelhantes. A
competência profissional não é o escopo e o mercado de trabalho por si
só não consegue melhorar o nível da oferta de mão de obra qualificada. A
sensação que se tem, é que a ignorância, a incompetência, a
imoralidade, e a desonra são cultivadas, hoje em dia, como espécies de
‘virtudes’ republicanas e sinais de ‘esperteza’ e inteligência.
O primeiro grande absurdo no
sistema escolar brasileiro é a não distinção entre educação e ensino.
São coisas díspares, embora complementares, na formação de um cidadão
socialmente participativo, ou seja, capaz de formar suas opiniões, e de
funcionar de forma política e economicamente ativa (e, pois,
socialmente) na manutenção da sua comunidade, estado e nação.
No meu entender, a educação é
um conjunto de valores culturais e civilizacionais que a família e não a
escola deveria passar para os seus dependentes. Todavia, há que se
considerar a realidade de uma possível maioria de famílias
desestruturadas, fragmentadas e por muitos motivos – entre os quais se
sobressai o acúmulo de gerações mal educadas e mal ensinadas – incapazes
de educar quem quer que seja. Então, a escola tem que educar essas
pessoas, essas famílias, fazendo-os compulsoriamente alunos para a
formação de uma cidadania melhor.
O ensino é o conjunto
conhecimentos teóricos e procedimentos práticos cujas técnicas
pedagógicas visam o resultado de fazer o aluno aprender tudo aquilo do
qual dependerá a qualidade da sua futura vida profissional. O ensino tem
que ter como horizonte, a capacitação profissional e a educação deve
ter como horizonte a capacitação cultural e a assimilação dos valores
morais de nossa cultura judaico-cristã, além de se esmerar na construção
de um cidadão democrático, que valorize o mérito e capaz de entender a
vida que o cerca, os acontecimentos que se sucedem na sua comunidade, no
seu estado, no seu país, e no mundo.
Como se consegue isso?
Primeiramente, adotando essa
conceituação básica de diferenciar essas duas partes importantíssimas na
formação da cidadania. O próprio conceito de cidadania deve mudar.
Há um contingente, ainda minoritário, de pessoas capazes, adimplentes,
probas, honradas, e cujas ações devem ser consideradas parâmetros a
serem estabelecidos para a formação de um brasileiro melhor.
A cidadania, pois, não deve
levar em consideração a faixa etária, mas sim a escolaridade educacional
e de ensino. Se transformarmos o certificado de conclusão do segundo
grau num chamado ‘DIPLOMA DE CIDADÃO BRASILEIRO’, já
estaremos dando um passo gigantesco para criar no Brasil um
povo-potência, condição legítima para termos a seguir, como consequência
natural, um Brasil-potência. Um país não é rico porque tem um estado
totalitário e rico, mas porque tem um povo educado, competente, e, por
conseguinte, rico. A falta de educação e a ignorância são preceptoras da
pobreza e da miséria. O cidadão mal formado é caldo de cultura para o totalitarismo e a corrupção institucional.
É claro que, a partir daí,
todas as pessoas que não tiverem a conclusão do segundo grau não
poderiam ser considerados “cidadãos” e, por tal razão, teriam que ser consideradas “dependentes”. Esse grande contingente, ainda majoritário, de dependentes, estaria vinculado às quatro molas propulsoras da sociedade civil:
- o cidadão;
- os grupos de cidadãos;
- as empresas;
- o estado.
- os grupos de cidadãos;
- as empresas;
- o estado.
O cidadão, em tese, teria sob seus
cuidados os seus próprios dependentes, nas pessoas de seus filhos e
parentes entregues à sua tutela, que ainda não tivessem terminado o
segundo grau. Caso a família fosse formada por pessoas não qualificadas
para exercer a cidadania, elas deveriam estar aos cuidados de grupos de
cidadãos (associações, sindicatos, ONGs, etc.) que a sociedade civil
estimularia para se dedicarem a essa atividade social básica e pioneira.
Tais pessoas, também, poderiam ser
adotadas culturalmente e pedagogicamente por empresas nacionais ou
internacionais com investimento considerável no país, pois elas são, em
tese, as principais interessadas em sua futura mão-de-obra qualificada.
Finalmente, caso as três instâncias acima
não conseguissem educar e ensinar todas as pessoas dependentes e fazer
delas cidadãos qualificados conforme os conceitos acima, o estado
assumiria o que sobrasse, a partir do município, depois do estado e
finalmente em âmbito federal.
As pessoas em formação, os dependentes,
não seriam em nada ‘inferiores’ aos cidadãos como pessoas humanas, assim
como os nossos filhos não são inferiores a nós, seus pais e
responsáveis. Apenas seguiríamos a lógica de não exigir, delas, os
deveres e responsabilidades inerentes ao exercício da cidadania,
enquanto elas ainda não estivessem preparadas para tal. Evidente é que a
falta de deveres e obrigações corresponderia, diretamente, à
inexistência de direitos correspondentes por eles consubstanciados.
Os dependentes, enquanto nessa condição,
não teriam nenhuma participação política, não poderiam ser
proprietários, não pagariam impostos, e exerceriam atividades apenas
como aprendizes, mesmo que, por isso, viessem a receber algum tipo de
ajuda de custo. Não poderiam, pois, receber salários nem qualquer tipo
de honorários profissionais, uma vez que somente os cidadãos educados e
profissionais, a partir da conclusão do segundo grau, teriam o direito a
isso.
É preciso, também, que os cursos
educacionais sejam ministrados paralelamente, mas não misturadamente,
com os cursos de ensino de formação profissional. Aí, então, reside o
problema dos pedagogos e profissionais de educação e de ensino, em
estabelecer quais as matérias ou disciplinas pertencem a cada tipo de
formação. Apenas como ilustração, atrevo-me a dizer que, na minha
concepção, as matérias de educação seriam, por exemplo, a Educação moral
e cívica, a Educação artística, a Urbanidade, a Leitura e interpretação
de textos, a Higiene alimentar e vida saudável, a História do Brasil e
Geografia histórica brasileira, a História Universal e geografia
histórica da humanidade; a Filosofia; a Educação religiosa; a Estética e
Sociabilidade; as Noções de direito e de dever, etc.
Os cursos de ensino profissional
abrangeriam, então, as matérias que todos necessitarão nas suas vidas
profissionais, tais como: Matemática, Línguas, Ciências Naturais,
Ecologia e climatologia, Física, Química, Biologia, Genética,
Informática, Administração pública e privada, Matemática financeira,
Estudo das Profissões, todas direcionadas à formação de profissionais de
nível médio, que é o que o país mais necessita.
O nosso desemprego decorre muito mais da
falta de mão de obra qualificada do que da falta de vagas no mercado de
trabalho. Vivemos num mundo altamente competitivo onde as pessoas que não estão preparadas para terem uma atividade produtiva, fatalmente terão uma atividade destrutiva.
Cabe aos cidadãos e as suas instituições de representatividade
democrática, privadas e públicas, a responsabilidade de zerar o déficit
educacional e de ensino que existe de forma alarmante na nossa
sociedade.
Dentro desta perspectiva, salta ao
entendimento que o interesse geral da cidadania e do estado passaria a
ser a formação dos seus dependentes, da melhor maneira e da maneira mais
rápida possível, transformando-os e cidadãos de uma qualidade muito
melhor à que temos hoje.
A sedimentação de valores éticos e
culturais cristãos criaria uma mística de honestidade, honradez e
probidade que parece, hoje, estar perigosamente se desvanecendo, se é
que, algum dia, tenha existido em nosso país de modo efetivo.
Está lançada a ideia. Devemos trabalhá-la para fazê-la prosperar.
O Brasil merece isso!
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