domingo, 11 de dezembro de 2011

TARDES DE DOMINGO NO MARACANÃ

Grande ou pequena, bonita ou feia, toda cidade em final de tarde de domingo é um marasmo.  E o Rio de Janeiro não foge a essa regra. Assim era, dos anos 70 a 90.

Pela manhã, quase sempre, praia, clube, churrasco com os amigos, a pelada no campinho de várzea, um pagode regado a cerveja gelada... 

Isso até um pouco depois do meio dia.  À tarde, parecia que a sombra dos morros cariocas deita-se sobre a cidade, deixando-a numa penumbra triste e carrancuda.

Só havia, então, um lugar... um único lugar onde a alegria tomava conta de todos, onde tudo era festa! No velho Estádio Jornalista Mário Filho  -  o Maracanã.

Por volta das 2 da tarde a galera já estava se reunindo a fim de seguir para o velho e charmoso Maraca.  

Fazíamos uma primeira parada na São Francisco Xavier, no coração da bela Tijuca. Ninguém era de ferro!  Naquele calorão de 40 graus a loura gelada descia bem. E, nos botecos, dali a conversa era sempre boa. Encontrávamos outros amigos, mesmo sem combinar. 

Entrávamos no estádio sempre pelo acesso da Av. Maracanã, onde o Belini permanece incansavelmente sugurando a Taça Jules Rimet, conquistada definitivamente na Copa de 70. Subíamos a rampa em direção aos bares. Naquela época ainda vendiam cerveja.

Procurar lugar para assistir o jogo...? Sem muita pressa! Nosso grupo era composto por torcedores de vários times cariocas  -  a exceção era eu, torcedor do Bahia. Gostávamos de ficar num trecho das arquibancadas chamado de "torcidas mistas". Mesmo nos clássicos, aquele espaço nunca enchia. A nossa frente ficavam as cabines de rádio e os túneis, por onde os jogadores iam surgindo e eram saudados com aplausos de um lado e vaias do outro.

Na maioria das vezes, os integrantes do nosso grupo não torcia por nenhum dos times que ia jogar naquela tarde. Para nós, pouco importava quem iria jogar.  Queríamos era ver o bom futebol sendo jogado e fugir do marasmo que tomava conta do Rio nas tardes de domingo, fora do Maracanã.

Queríamos ver Zico, Adílio, Leandro e Júlio Cesar (Flamengo); Zé Carlos, Moreira, Carlos Roberto, Afonsinho, Ferretti e Mário Sérgio (Botafogo); Galhardo, Marco Antonio, Flávio, Washington e Assis (Fluminense); e Andrada, Zanata Geovane e Roberto Dinamite (Vasco), e muitos outros. Valia a pena ver até a "indelicadeza" com que Nunes (Flamengo) e Valtencir (Botafogo) tratavam a "gorduchinha" que rolava no gramado perfeito. Tinha até jogador folclórico, cantado em prosa e verso por fanáticos rubro-negros... Esse era o caso de Fio, ou melhor "Fio Maravilha". 

A saída do Maracanã, mesmo nos anos 70, já era complicada. Quem era esperto - como nós  - e não gostava de "marcar bobeira", saía das suas imediações o mais rápido possível e ia continuar as comemorações em outro lugar.  Uma vez fomos parar em São Cristovão e nos arrependemos.  A barra pesou, por lá!

À medida que o tempo passou e a família foi se modificando  -  chegaram as meninas e estas cresceram - o Maracanã continuou fazendo parte das nossas tardes de domingo, mas com novos hábitos. Ao invés das arquibancadas, íamos para as cadeiras numeradas, onde os torcedores eram mais comportados.  Nosso grupo de amigos se desfez, pelo menos para ver futebol no Maracanã.

Passamos  - eu e as meninas  - a frequentar também o estádio das Laranjeiras. A mãe, tricolor doente, fantasiou-as desde pequenas com uniformes do Fluminense e isso teve uma influência capital na escolha do clube, por elas.

O fato é que as coisas só mudaram mesmo no início dos anos 90. Veio a TV a cabo e os jogos "paper-view" (pague para ver). Isso, somado à violência protagonizada pelas torcidas (des)organizadas, tornou o Maracanã "infrequentável" para nós. 

Mesmo quando morávamos no coração tijucano e poucas quadras do Maraca, preferíamos ficar assistindo os jogos em casa.  Quando a partida era muito importante, podia-se assistir na área de lazer do condomínio, onde muitos moradores se reuniam para torcer depois de uma churrascada.

Pra não dizer que deixamos de ir totalmente aos estádios de futebol, de vez em quando, arriscávamos uma ida às Laranjeiras e/ou ao Caio Martins, quando estávamos na Cidade Sorriso (Niterói), em casa de parentes.

Em 99, deixei o Rio e as tardes de domingo no Maracanã estão indelevelmente marcadas em minhas lembranças.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A legislação brasileira prevê a possibilidade de se responsabilizar o blogueiro pelo conteúdo do blog, inclusive quanto a comentários; portanto, não serão publicados comentários que firam a lei e a ética.