quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A ARTE E A VIDA

Naquela noite a praça tava um fuzuê! Em intenso frenesi, moças e rapazes giravam no entorno do coreto central nos dois sentidos.  

Quem já havia se engraçado por alguma "mina", girava sempre no sentido oposto ao que ela fazia. A cada encontro uma cantada, nem sempre bem feita, como acontecia naqueles tempos.

Nas barracas de quermesse e nas bancas de jogos de azar, podia-se notar concentrações daqueles que gostam do bingo e da aposta.

A quilômetros de distância, podia-se ouvir o som rouco que saía dos "bocas-de-ferro" do serviço de sonorização, quase sempre, tocando músicas de Roberto Carlos e de outros ícones da Jovem Guarda.  

As reproduções musicais, na base da agulha riscando os "bolachões de vinil", iam sendo precedidas de dedicatórias do tipo: 

"Atenção fulana ou beltrano! Um alguém que muito lhe ama dedica-lhe esta página musical!"

Anita, acompanhada da amiga Cida, não fugia à regra; girando na praça.  Mas circulava sempre no sentido horário. O solado da sandália do pé direito das duas já estava mais gasto do que o pé esquerdo. 

A cada volta completada, faziam uma parada nas proximidades do serviço de auto-falantes.

- Vá lá Cida!  Toma aqui 2 "minréis" e pede pra colocar "Eu te darei o Céu", do Rei Roberto Carlos pro homi qui tô amando!  - dizia Anita para a amiga.

-  "Mazói"... num diz o nomi dele não! Pede pra falar só ar letra do nomi dele, qui é "OX".  -  completava.

E Cida, cumprindo o desejo de Anita, ia lá no estúdio, com um papelzinho escrito na mão:

- Ô moço!  Bota aê essa página musical qui minha amiga Anita tá dedicando a "OX" (oxis)! Táqui o dinhêro!

Minutos depois, ouvia-se a mensagem se espalhando por toda a cidade: 

"Atenção, atenção, OXIS! Ouça essa página musical que lhe é oferecida por pela "mina" de vestido amarelo que tá circulando na praça no sentido horário!"

Isto se repetiu inúmeras vezes. O cara da sonoplastia já estava de saco cheio e, certamente, todos que participavam da festa também.  

A mesma música... o mesmo tal "oxis"... a mesma "mina" de vestido amarelo... que já devia estar zonza de tanto girar no sentido dos ponteiros do relógio naquela praça.

Quando a Cida foi lá novamente formular o pedido de Anita:

-  "Moço..."  

- Minha filha, quem é esse tal "OX"!?  -  perguntou o locutor.

- Dexôvê, moço...  -  E Cida foi perguntar a Anita de quem era as iniciais "OX".

Anita respondeu:

- Ora, miga... Num mi diga qui ôce num conhece Otoin Xofer!?  Aquele da kombi...

- Quem!?  -  surpreendeu-se Cida. - Ahn! Sei... o Antônio, chofer da kombi... entendi!

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