terça-feira, 17 de janeiro de 2012

PARA NÃO SE "PERDER O BONDE DA HISTÓRIA"

Ao decidir escrever sobre esse assunto, minha intenção não é tão-somente denunciar as mazelas, mas,  também apontar caminhos.

São vários os indicadores do subdesenvolvimento. Segue uma lista dos mais notáveis e, praticamente todos, encontrados na Região Cacaueira: 

 
- A exploração ao mesmo tempo insuficiente e predatória dos recursos naturais vivos, para a subsistência; 

 
- A baixa escolaridade e qualificação média da mão-de-obra;
 

- A desintegração e insuficiência da rede de transportes; (somente este assunto preencheria um seminário).
 
- O acesso restrito da população a saneamento básico; 

 
- As precárias condições de saúde, educação e cultura; 

 
- O grande percentual da população que se encontra abaixo da linha de pobreza.


Pode-se ainda acrescentar a ausência de exportação diversificada de produtos e a ausência (não tenho conhecimento de nenhum caso) de patentes registradas. 

 
Não se tem a pretensão de comparar esta região com sociedades de países do chamado primeiro mundo.  A comparação será feita com outras regiões/estados do próprio Brasil.

 
Hoje, pode-se afirmar que todas as Regiões Brasileiras vivem o mesmo momento histórico. Mas, nem sempre foi assim! Ilhéus – e o mundão de terras que lhe pertenciam - estava na frente (ou deveria estar), considerando que sua ocupação por seres inteligentes (?) antecedeu a da maioria do restante da Nação. Seria natural, portanto, que estivesse vivenciando um estágio de desenvolvimento distinto das regiões que foram ocupadas depois.

 
Acima, estão alguns indicadores de subdesenvolvimento; abaixo, algumas das características mais marcantes de uma região subdesenvolvida:

 
-  Reduzido grupo social com alto poder aquisitivo ao lado de grupos paupérrimos e de baixa produtividade. 

 
- Ignorância ao lado da cultura.


- Eficiência tecnológica convivendo com o uso de métodos arcaicos e ultrapassados;

 
- Riqueza vizinha da miséria.


Uma heterogeneidade ululante! Diria o Nelson.  É exatamente essa heterogeneidade a marca mais distinta do subdesenvolvimento. No caso dessa Região, esse precipício foi originado por um sistema produtivo que não se difundiu e deixou de gerar e distribuir renda devido a sua estrutura social, cuja base era o latifúndio e a monocultura agrícola, combinada com um regime de mão-de-obra semi-escrava e servil.

 
Essa conjuntura injusta e impiedosa que se estendeu ao longo de mais de dois séculos, levou a uma produção de bens e serviços insignificante por habitante. Quando expresso em termos monetários, resulta num baixíssimo produto per capita; e, quando em termos sociais, numa precária qualidade de vida para a imensa maioria, ao lado de uma riqueza da qual pouquíssimos desfrutaram (esse é o tempo verbal mais adequado).

 
E os desafios locais nunca foram maiores do que os enfrentados por brasileiros em outras regiões do País. Muito pelo contrário. Dispôs-se (sempre) de um território com características e potencial bem mais favoráveis do que em outros rincões que hoje ostentam níveis de desenvolvimento muito superiores aos daqui.

 
Nesses últimos tempos, assiste-se a um momento histórico ímpar e que poderá promover a superação do subdesenvolvimento. São os grandes investimentos na infra-estrutura de transportes e de prospecção e exploração mineral, tanto em terra quanto no mar. No bojo desses empreendimentos espera-se a atração de novos investimentos em outras áreas: tecnologia, comunicações, produção de bens e serviços, etc.


Essas novas demandas irão encontrar alguns gargalos herdados da “sociedade coronelista”. São problemas cuja solução exige média e longa maturação e não podem, por isso, ser resolvidas da noite para o dia. Dizem respeito à oferta de mão-de-obra qualificada e especializada, quase sempre, dependente de novos, maiores e urgentes investimentos em Educação, Saúde e, até mesmo, em Cultura.
 
Aponto para esse obstáculo tocado pelo sentimento de não querer presenciar a “importação” de profissionais qualificados de outras regiões em detrimento dos trabalhadores locais, por falta de preparo e treinamento.


De que adiantarão os investimentos em curso se não houver uma preparação da força de trabalho local para assumir os cargos mais importantes dentro das novas estruturas de produção?  Corre-se, portanto, o grave risco de se ostentar as condições econômicas ideais de crescimento e desenvolvimento sem que os benefícios advindos possam ser aproveitados pelos que são da própria Região! Que se abram bem os olhos, a fim de que não se tenha um nível econômico estável com uma população miserável!

 
Se nada for feito  -  e praticamente nada se observa de mudança e investimentos nas áreas educacional, de saúde e cultural  -, não obstante o inquestionável crescimento, haverá um custo humano e social elevadíssimo para a imensa maioria da população. E, como acontecia no regime latifundiário da monocultura do cacau, serão uns poucos super-ricos, distantes e alheios aos conflitos, que tenderão a se agravar cada vez mais na sociedade local.

 
Colocadas as devidas preocupações no contexto geral e devidamente apontados alguns caminhos, no parágrafo acima, resta-me elocubrar sobre o que  -  para mim  -  seria inimaginável, caso se venha a “perder o bonde da história”: o riso sardônico dos “eco-espertos” movidos a soldos e interesses exógenos, que hoje digladiam contra o desenvolvimento da Região, defendendo a permanência de um dos principais indicadores de subdesenvolvimento citados acima: “A exploração ao mesmo tempo insuficiente e predatória dos recursos naturais vivos"


Souza Neto

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