Por conta da quantidade de manicacas que carregava na parte frontal da gandola, recebeu o apelido de "Capitão Asa".
O valoroso Sargento Fuzileiro era pau para qualquer obra. Possuía os cursos de Pára-quedista, Mestre de Salto, Mergulhador de Combate, Comandos Anfíbios, Guerra na Selva, dentre outros. Quando a situação dava nó cego, era quase sempre requisitado para desatar.
O valoroso Sargento Fuzileiro era pau para qualquer obra. Possuía os cursos de Pára-quedista, Mestre de Salto, Mergulhador de Combate, Comandos Anfíbios, Guerra na Selva, dentre outros. Quando a situação dava nó cego, era quase sempre requisitado para desatar.
Estávamos em Santa Catarina. Acordamos muito cedo e começamos os preparativos: macacões de salto, coturnos, altímetros, bússolas, pára-quedas principal e reserva, armamentos, e assim por diante. Naquele dia, parte da missão consistia em realizar uma incursão com saltos livres, envolvendo o inimigo (figurativo) pela retaguarda. No local das manobras havia algumas pequenas cidades. Uma delas deveria ser conquistada e ocupada.
Acordamos muito cedo. Nossa previsão era começar as manobras às 07 horas. Embarcamos num velho e possante Búfalo da nossa Força Aérea no Aeroporto Hercílio Luz e alçamos vôo.
Chegamos ao objetivo. De lá de cima, a cidade parecia ainda menor.
Chegamos ao objetivo. De lá de cima, a cidade parecia ainda menor.
Na hora prevista, o Búfalo começou a despejar fuzileiros navais pelo céu de Santa Catarina.
O "Capitão Asa"? Não dava pra identificá-lo entre aqueles pontinhos no ar, mas estava entre nós!
O "Capitão Asa"? Não dava pra identificá-lo entre aqueles pontinhos no ar, mas estava entre nós!
Nosso ponto de aterragem era uma pequena clareira nas proximidades da cidade. Ao longo da queda livre buscávamos o máximo possível a aproximação do local.
Imprevisíveis ventos fortes teimavam em levar nossos pára-quedas para o centro da área urbana. Cada fuzileiro começa então o trabalho de correção da rota, comandando seus equipamentos. O esforço era grande... a velocidade do vento aumentava... Alguns conseguiram tocar o solo bem próximos ao objetivo, outros nem tanto.
Em situações como aquela, a primeira preocupação era safar-se das redes de alta tensão e realizar uma aterragem segura, onde quer que seja.
Mas, e o "Capitão Asa"!?
Logo que conseguimos nos reunir, demos pela falta dele.
Foi necessário mais algum tempo para que soubéssemos do ocorrido com ele. Recebemos o apoio de uma viatura e nos deslocamos para o centro da cidade. Havíamos recebido a notícia de que o "Capitão Asa" tinha descido por lá em condições pouco favoráveis.
Chegando ao centro fomos orientados na direção da praça central, onde ficava a igreja. Grande multidão se encontrava na pracinha em frente ao templo. Entramos. Olhando para o teto da igreja pudemos visualizar o nosso companheiro, ainda pendurado pelos velames.
O "Capitão Asa", com dificuldades em comandar seus velames, havia caído sobre o teto da igreja. Passou pelas telhas e pelo velho forro de madeira, ficando pendurado há cerca de 15 metros de altura do altar.
Uma equipe foi designada para providenciar o equipamento necessário para o resgate do "Capitão Asa" do teto da igreja. A cidade não possuía Corpo de Bombeiros e, por isso, o "Asa" teria que ser resgatado por um andaime de obras. A equipe de salvamento lançou "mãos à obras", literalmente.
Enquanto essa providência estava sendo tomada, passamos a ouvir as versões dos populares.
Tudo aconteceu no momento em que a igreja estava cheia, disse um. Era horário da missa matinal, afirmou outro. De repente... ouviu-se um estrondo infernal que vinha do céu. Parecia que o mundo estava desabando, disse um homem, ainda assustado. Quando olharam para o teto da igreja, viram uma figura vermelha que vazava o forro. Primeiro as pernas, depois o corpo inteiro. Começou então uma gritaria por parte das beatas: "Valha-me Deus, é Satanás! É Satanás!"
É que o "Capitão Asa" utilizava um pára-quedas vermelho, cujas partes ficaram à mostra no forro da igreja. Em poucos segundos o templo se esvaziou e as pessoas corriam assustadas pelas ruas. Alguém mais ponderado, compreendendo o ocorrido, veio à escadaria da igreja e tentou tranquilizar o povo: "Calma gente! É apenas um homem que está pendurado no teto! Deve ter perdido o controle do pára-quedas e acabou caindo sobre o telhado!"
Tranquilizado o povo e retirado o "Capitão Asa" daquele desconforto, dissemos ao nosso amigo que a partir daquele instante o grupo estava pensando em rebatizá-lo. Ao invés "Capitão Asa", passaria a chamar-se "Satanás, o Profanador de Templos".
Sacaneamos o cara durante toda a viajem de volta. Mas, o novo apelido não pegou. Tão logo chegamos ao Rio, voltou a ser chamado novamente de "Capitão Asa".
Nota: vale lembrar que o personagem herói da TV nos anos 60 era Capitão AZA (com "Z").
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