quinta-feira, 23 de setembro de 2021

IMPACTOS DO REGRESSO

 IMPACTOS DO REGRESSO 

Júbilo e satisfação... voltei, revi, procurei...

Era junho de 2000; o povoado efervescia com os festejos a Antônio de Atalaia.

Defronte à singela orada, "surfando" minha face, os alísios vindos do Atlântico soavam como uma ode.

Sibilar emocionante a encharcar minh’alma de recordações dos tempos de menino.

Transcorrem os dias... Vem-me a percepção da realidade.

É visível o medo estampado na fronte de cada homem, cada mulher...

Meu aceno com o bom fruto e águas límpidas não fazia eco.

Parecia não haver sedentos que quisessem aproximar-se... e beber... e saciar-se.

Vi-me na encruzilhada do partir e do ficar.

Partir pela covardia de enfrentar... ficar pela necessidade de pagar a dívida social com o povo de Canavieiras, minha Terra.

Tomei a decisão mais difícil. Sentei-me nas encruzilhadas dos caminhos mais usuais. Aguardei maiores possibilidades de intercâmbio, trocas... Sem buscar recompensas.

Pus-me, expus-me diante dos poucos famintos e sedentos de saber e ansiosos por mudanças.

Quase nada a oferecer... apenas frutos do meu pomar, que não estavam podres, e um pouco de água limpa e cristalina, lentamente filtrada pelos anos.

Ousei, até ousei, imaginem! E por ousar rabisquei alguns textos.

Até disse, e ainda digo, que quatro páginas impressas era um jornal. O Aríete não tinha lado... nunca esteve “vendido”.

Senti, observei... Em alguns, vi reflexos de sensatez.

Teria encontrado quem quisesse comer do bom e maduro fruto? Beber e saciar-se da água pura?

Era cedo pra dizer. Minha necessidade em doar era maior que a daqueles que precisavam receber.

Minhas angústias eram pesados grilhões que me fortaleciam na perseverança e na busca de resultados.

Enfim, o estandarte estava desfraldado! Não havia mais possibilidades de recuo!

Pregava a defesa da moralidade e honestidade na administração pública; intencionava o banimento dos atavismos e o despertar da razão em todos os corações.

Com fibra e altivez, foi hasteado e mantido no topo das consciências; içado no ponto mais alto, onde o pensamento atávico, retrógrado não pudesse alcançá-lo.

Janeiro de 2009... Um pouco cansado de tudo... A mesmice campeando pelos quatro cantos...

Parti para dar abrigo aos anseios dos meus que reclamavam oportunidades de estudos mais avançados na cidade de Ilhéus.

No transcurso de 9 anos, minha vida foi uma gota de sangue nas veias de Canavieiras e uma lágrima nos seus olhos e um sorriso nos seus lábios.

Marchei com passo firme rumo à verdade. Como lâmpada que não se apaga, sal que o tempo não estraga, sonhos que o despertar de cada manhã não dissipa.

Trago comigo a certeza de que a muda do coqueiro plantado nas areias de Atalaia viverá mais do que todas as chicanas engendradas pelos políticos de minha Terra!

Que o carro de madeira puxado pelos bois na fazenda Barreiras é mais nobre do que todas as ambições dos mentecaptos do poder.

Que, até mesmo, as hortaliças plantadas nas terras secas da Burundanga durarão mais do que a pérfida negociata dos salafrários do poder contra meu povo.

Tentei reunir pequeninas sementes, que plantadas no solo fértil das Dragas, poderiam ter sido esperança de redenção de tua floresta seca. Mas, em meio a elas estava o joio!

Muitos estão satisfeitos. Eu sei. E haverá satisfação enquanto a inexorabilidade do tempo e a infalibilidade das Leis Universais não suplicar seus espíritos.

Eu – ainda que insatisfeito -, sigo com suavidade e paz, pois sei que há coisas em Canavieiras que os capadócios do poder nunca irão mudar:

O Rio Pardo continuará correndo para o mar ainda que alguns tentem represar suas águas;

Os ventos alísios continuarão o seu canto nas palhas dos coqueirais;

O vai-e-vem das marés continuará a dar vida aos teus manguezais.

Dia virá em que os falsos líderes, ambiciosos do poder temporal, que se sustentam às custas do suor alheio, terão o manto negro rasgado.

Dia virá em que a mentira escondida sob o véu das falsas inteligências e a astúcia disfarçada pelo esnobismo sucumbirão.

Então, a verdade genuína e desnuda olhar-se-á num poço de águas claras e verá seu rosto sereno e seus traços abertos.

Nesse dia, cada canavieirense sentir-se-á um sábio, que sentado à sombra dos coqueirais, olhará com indiferença para tudo que não é Deus, nem Luz, nem Sol! 

Souza Neto, J. A. - nascido debaixo dum pé de cacau, é Pai, Marinheiro, Professor-Regente do Magistério da Bahia e Membro da Academia de Letras de Canavieiras (ALAC).

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