Por Marco Balbi
Com o título acima, o jornalista Jânio de Freitas
aborda em sua coluna de 1º de agosto, publicada no jornal Folha de São Paulo,
as restrições orçamentárias impostas pelo Executivo federal a vários órgãos
governamentais, dentre os quais teve destaque, pelo montante, a do Ministério
da Defesa.
Inicialmente o articulista aponta que a decisão
inicial do Comando da Marinha, posteriormente desmentida, de suprimir o
expediente da grande maioria das organizações militares subordinadas, sob o
aspecto meramente econômico, era muito boa, justificando com percentuais não
muito claros, ao mesmo tempo em que envolve o Exército Brasileiro e o meio
expediente que vige em grande parte das unidades desta Força.
Esquece-se por certo o jornalista que a profissão
militar é sideral, ou seja, seus membros encontram-se 24 horas à disposição da
sua Força. Cumprem suas escalas de serviço, atendem aos exercícios de
adestramento, participam das atividades previstas pela Constituição Federal e
pelos demais dispositivos legais, conforme determinado, sem hora ou descanso. E
sem receber qualquer tipo de ajuda remuneratória, nos seus parcos salários,
reconhecidamente os mais baixos da administração federal.
Na ânsia de atribuir um aparente laissez-faire aos
militares remonta-se ao tempo do então Ministro do Exército, Leônidas Pires
Gonçalves, quando o Exército deixou de ter a "regalia" do meio
expediente às quartas-feiras. Bom, se voltasse mais ainda no tempo, poderia
lembrar que as organizações militares cumpriam expediente aos sábados pela
manhã.
A seguir o artigo levanta uma suspeita, faz uma
denúncia sobre os contratos assinados pelo governo brasileiro, através do
Ministério da Defesa e do Comando da Marinha com uma empresa francesa para a
construção da Base de Itaguaí, onde se desenvolve o projeto dos submarinos
brasileiros, incluindo o nuclear. Parece-me que se o jornalista tem
efetivamente dados que comprovem o benefício concedido a uma determinada
empresa brasileira que os apresente formalmente ao Ministério Público para que
o mesmo abra o processo necessário para conduzir a investigação. Caso
contrário, estará apenas tentando sujar a reputação de pessoas e empresas com
meras suspeitas.
A seguir, busca denegrir a imagem das Forças
Armadas, acusando-as de desatualização conceitual, por ainda estarem
doutrinariamente ligadas aos tempos da 2ª Guerra Mundial. Bom, só para falar do
Exército Brasileiro, mas que por certo ocorreu com as demais Forças Armadas,
desde 1970 a doutrina vem sendo constantemente atualizada, mediante o estudo
continuado, característica da profissão militar. O Sr. Jânio de Freitas por
certo nunca esteve em contato com organizações que estudam e pesquisam a
doutrina, casos históricos recentes e atuais, atualizando permanentemente os
currículos das escolas em todos os níveis, de oficiais e praças.
Da mesma forma o articulista deve desconhecer o
esforço hercúleo desenvolvido pelos institutos de pesquisa das três forças,
tentando desenvolver tecnologia autóctone, com os parcos e descontinuados
recursos financeiros disponíveis e tendo como massa crítica cientistas, muitos
deles formados nas ilhas de excelência do IME e do ITA. Por certo que não só
estes, mas também os operacionais acompanham o avanço que as modernas
tecnologias impõe ao modo de conduzir um futuro combate que todos, em especial
os militares, esperam não acontecer. Mas precisam, pelo menos, de um mínimo de
poder dissuasório para desestimular eventuais ameaças.
Para finalizar o artigo não poderia deixar de dar
as duas últimas contribuições com características rançosas: o anti-americanismo
e o inconformismo com a reação democrática de 1964. Quanto ao primeiro critica
a atuação dos EUA na defesa dos seus interesses ao redor do mundo. Quanto ao
segundo afirma que as organizações militares "deixaram de ser clubes de
conspiração antidemocrática." Justo no ambiente onde sempre se forjou o
caráter de jovens brasileiros, incutindo-lhes civismo e patriotismo, o Sr.
Jânio de Freitas acha que se conspirava diuturnamente contra a democracia. O autor
deve ser um ótimo ficcionista.
Marco Antonio Esteves Balbi é Coronel na Reserva do EB.
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