Afinal, depois dos sofridos anos no "cárcere" e tendo deixado a vida material tão cedo, estava muito bem... Não tinha as necessidades que tenho hoje.
- Você precisa ir! - diz um orientador. - Há muito que fazer por lá... estão te esperando!
- Que fazer! - disse consolado. - Não tem jeito mesmo, né?!
- É! - respondeu-me ele, completando: - Além dos que já te esperam por lá, há os que ainda estão aqui, esperando você chegue lá!
Putzzz! A situação era por demais complicada - pensei. Minhas preocupações estavam baseadas no mundo que eu conhecia: guerras e pestes espalhadas pelo mundo; exploração de toda ordem; pessoas egoístas e cheias de ódio; um mundo onde tudo era distante e carente de meios de locomoção.
Conforme o plano estabelecido "lá em cima", cheguei numa noite fria do ano de 1950. À medida que fui crescendo, não lembrava de mais nada do que tinha assumido fazer por aqui. Aquelas pessoas me eram totalmente estranhas, embora tenham sido apresentadas a mim durante o "preparo" para o retorno. Mesmo aquelas que faziam parte do seio familiar, não lembrava-me delas.
Com o passar do tempo, algumas coisas começaram a clarear em minha cabeça. Por meio de leituras e participações em palestras da "doutrina da consolação", tomei conhecimento de alguns compromissos assumidos.
Aqueles que haviam ficado aguardando a minha chegada e a madureza necessária para recebê-los, já vieram?
Três deles, me foram "apresentados" em encontros "casuais". Outros três, vieram por meu intermédio, cumprindo a lei da ânsia da vida por si mesma.
Não sei se vieram todos, é bem verdade!
Isto me fez lembrar do que um dia escreveu Kallil Gibran:
Vossos filhos, não são vossos filhos.
São os filhos da ânsia da vida por si mesma.
Vem através de vós, mas não de vós.
Embora vivam convosco, não vos pertencem!
Nada comparado com a "vida" que "vivia" antes... Meu coração não batia; não precisava encher o estômago com coisas que apodreciam; não dependia da morte de outros seres para sobreviver...
Mas essa, que "vivo" agora, é outra vida! A vida que os cientístas conhecem e, equivocadamente, buscam iguais por todo o Universo.
Quando "aceitei" a proposta de voltar, não fui informado que nesta "vida" estaria cercado de enorme quantidade de irmãos mais imperfeitos do que eu. Mais imperfeitos do que eu!? Inacreditável! quem poderia ser mais imperfeito do que eu?!
Lá "em cima", não haviam me antecipado que a Terra estava recebendo muitos "passageiros de última viagem". Irmãos experimentando a última chance!
Longe de mim imaginar que tudo estava transformado num caos. Muito pior do que era antes... no tempo em que "vivi" por aqui!
Longe de mim imaginar que tudo estava transformado num caos. Muito pior do que era antes... no tempo em que "vivi" por aqui!
Malfeitores de toda sorte e em todos os lugares, espaços...
Na política, nas empresas, nos órgãos midiáticos, nas ruas, na vizinhança... Enfim, no dia-a-dia, no cotidiano... por toda parte.
A todo instante era preciso topar com egoístas, soberbos, desonestos, criminosos, etc...
Na política, nas empresas, nos órgãos midiáticos, nas ruas, na vizinhança... Enfim, no dia-a-dia, no cotidiano... por toda parte.
A todo instante era preciso topar com egoístas, soberbos, desonestos, criminosos, etc...
Decorridos 60 anos, percebo que muita coisa ainda está fora do lugar!
Durante o sono e mesmo ao levantar-me da cama, "vejo" muito do que deveria ter feito e ainda não fiz!
Não perco meu tempo avaliando o que os outros fazem ou deixaram de fazer.
Não perco meu tempo avaliando o que os outros fazem ou deixaram de fazer.
Coisas, assuntos, situações, relacionamentos... Tudo ainda aguardando solução! Soluções e decisões minhas!
Era, e ainda é, a mim que competia, e ainda compete, arrumar e resolver!
Sinto que ainda estou em dívida com alguns dos que aqui recebi e tinha a missão de acolher e amar!
Percebo que, pelo tanto que recebi, dei muito pouco de mim!
Serei cobrado! Sei disso!
No entanto, a hora da partida está próxima! Essa "arrumação" tem que ficar para depois!
Vou ficar devendo!
Espero que os meus tenham os recursos necessários à cremação.
Atirar as cinzas no Oceano é fácil!
Não há nada que as ondas não levem!
É nelas que eu vou!
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