sábado, 9 de julho de 2011

JURO, NÃO FUI EU...!

Pão-de-Açucar - Rio
Naquele dia, mesmo em Icaraí e com a fantástica vista do Pão-de-Açucar, não queríamos permanecer enclausurados num apartamento. 

No dia anterior, havíamos decidido ir à praia.
Era um belíssimo domingo de sol, temperatura já se aproximando dos 30 graus às 8 da manhã.

Pegamos o carro e seguimos na direção das praias oceânicas de Niterói.
Praia de Icaraí-Niterói

No caminho, decidiríamos a praia.  Se Piratininga, Camboinhas, Itaipú ou Itacoatiara.

Na subida da serra, depois do Badu, concordamos que o melhor lugar seria Camboinhas. 

Camboinhas - Niterói
Camboinhas é uma praia de gradiente muito íngreme e ondas muito altas e fortes. A distância entre a arrebentação e a areia é de poucos metros. No entanto, tem algumas “piscinas naturais” formadas pelas rochas que invadem  o mar.  Nessas “piscinas” as águas são calmas.

Estávamos com crianças. Por isso optamos por Camboinhas.

Decidimos ir cedo, tanto para evitar o trânsito mais intenso, quanto para um retorno mais cedo, em razão da petizada.

Chegamos a Camboinhas às 8 e meia.  Escolhemos o local para o guarda-sol e armamos o nosso “circo”.

Até por volta das 10 horas tudo transcorria sem problemas.

De repente, começa a soprar um terral. Dava pra sentir o vento quente na pele.  As ondas começaram a ficar cavadas e mais altas. 

Observei que muita gente começava a sair da água.

Ao meu lado, na distância de cerca de 50 metros, muitos gritos:
- Sai!  Sai!

Olhei para o mar e vi uma silhueta se debatendo entre as enormes vagas formadas pelo terral.

Lembrei dos treinamentos no tanque tático do Batalhão de Operações Especiais e dos exercícios de entrada e saída da arrebentação com botes pneumáticos realizados na praia de Sernambetiba.

Precisava agir!  Olhando em volta, parecia que ninguém estava disposto a se arriscar.

Entrei no mar e fui furando as ondas com a máxima rapidez possível.  Durante esse deslocamento, minha cabeça processava... será que as técnicas que aprendi vão funcionar? E se o “afogado” entrar em pânico e agarrar-se a mim, como normalmente acontece?  Será que a técnica de descer ao fundo vai fazê-lo soltar-me? Depois disso, a aproximação por trás pegando-o pelo pescoço com uma das mãos na axila vai funcionar? Tudo isso passou pela minha cabeça em poucos segundos.

Aproximei-me da silhueta e percebi que se tratava de um homem de meia idade.

Todas as características indicavam ser um “nadador cansado”.  Alguém, com pouca capacidade natatória, que não conseguia vencer a força das ondas para chegar à praia.

A uma distância segura disse-lhe:
- Tenha calma!  Estou aqui para ajudá-lo!
Aproximei-me um pouco mais... sempre pelas costas do homem.

- Nós vamos sair daqui!  -  disse-lhe, com tranqüilidade.  -  Mas, preciso da sua ajuda!  A partir de agora, você deve fazer o que eu disser!

Conhecia muito bem as técnicas de reboque para esses casos.  O de “nadador cansado”.

Atendendo a minhas orientações, ele segurou meus ombros com as mãos esticadas. Disse-lhe que poderia ajudar-me com batidas de pernas.
 
Primeira tentativa: 
 
Demos início ao deslocamento na direção da areia. Quase não saímos do lugar.  O cara não ajudava muito!

Olhando para a areia da praia, via-a de vez em quando... cada vaga que surgia nos deixava dentro de um cubo de água. Não fosse a visão do firmamento, parecia que o mundo havia se transformado em água.

Segunda tentativa:

- Ajuda um pouco aí, batendo as pernas!  - eu disse.  Estava preocupado em não perder o contado com ele.  Quando me voltava para olhá-lo, percebia que seus olhos pareciam fora da órbita, de tão assustado que estava.

Para mim, era muito fácil sair dali!  Afinal, era excelente nadador. Havia participado de competições de nado livre e de muitas manobras militares que exigiam grande capacidade natatória, inclusive transportando pesados equipamentos e, de quebra, o pára-fal.

Não!  Eu não estava no tanque tático realizando um simples treinamento! Nem, tampouco, nas arrebentações de Sernambetiba.  A situação era totalmente diversa... e inversa!  Ali, uma vida estava em jogo!

Essa segunda tentativa também não foi exitosa.

E o vento continuava soprando... e cada vez mais forte, fazendo com que as vagas formassem “buracos” no mar que nos faziam quase tocar os pés no fundo. Logo depois, nos jogava pra cima, como se fossemos bonecos de cortiça.

De repente... uma enorme onda começa a se formar...

- "É nessa!" - pensei!

Esforcei-me um pouco mais nas braçadas... 

Minhas batidas de pernas estavam prejudicadas pelo contato com o corpo dele.

Digo pro cara:

- Ajude-me com suas próprias batidas de pernas!  - As pernas dele estavam livres.

Ele atende ao meu apelo.

Conseguimos subir até a crista daquela bendita onda!
A onda que se formou, finalmente, “quebra”!   

Estávamos lá em cima... Ela nos jogou, de peito, sobre as areias de Camboinhas!

Mal havíamos sacudido a areia que envolvia nossos corpos, fomos cercados pelos que assistiam e torciam da praia.

O homem não havia ingerido água... por isso, não exigia maiores cuidados!

Ainda um pouco assustado,  agradeceu-me e foi, rapidamente, cercado pelos familiares, preocupados com seu estado de saúde.

Saí de mansinho... Fui pra junto dos meus.

Instantes depois, vejo-me cercado por uma multidão formada pelos familiares do “quase afogado”... Senhoras, rapazes, crianças...

Vieram manifestar seus agradecimentos.

Confesso que fiquei um pouco encabulado. Nunca havia passado por situação semelhante.

As pessoas estavam ali para me agradecer e dizerem que eu era responsável pelo salvamento de um de seus entes mais queridos.

Olhando aquela "turba", que me olhava, pensei:   
-  “Pô! Quanta gente esse cara ia deixar!

Lembrando-me do ocorrido, deduzi que se não fosse a onda que havia nos jogado nas areias da praia, todo o meu esforço teria sido em vão e eu teria deixado aquele companheiro à sua própria sorte.   

Não tinha dúvidas de que a onda foi enviada por alguém!  

Que, certamente, DEUS resolveu intervir e determinou à Natureza que formasse aquela onda salvadora.

Ainda meio encabulado, disse aos familiares do “quase afogado”:

- Não, não me agradeçam!  Não fui eu quem salvou o familiar de vocês! 

Foi uma onda!

UMA ONDA ENVIADA POR DEUS!

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