terça-feira, 21 de setembro de 2021

O MENINO E AS LATINHAS

 Há pouco, postei uma prosa intitulada Maria.


"Maria", a personagem que protagonizou aquela prosa é de carne e osso.

No meu retorno à cidade onde nasci (Canavieiras), passei a observar mais amiúde tudo a minha volta.

No tocante aos aspectos socioeconômicos, olhava com certa atenção o modo de vida das pessoas mais necessitadas.

Descobri Maria!
Claro que não é esse o seu nome!

Maria se virava como podia...
Catava papelão nas ruas
Nas lixeiras remexia.
Pegava restos nas feiras...
E o donativo de um comerciante
De vez em quando recebia.
E assim, ia sobrevivendo...
A desafortunada Maria!

Maria criava sozinha três filhos. O maior com sete anos. Vou chamá-lo de "Menino das Latinhas", porque, a partir daqui, ele começará a protagonizar essa prosa.

Canavieiras, cidade que tem o turismo como uma de suas fontes econômicas, possui um extenso calendário oficial de festas.

Na madrugada de um determinado dia, quando curtia um show aberto, vi o filho de Maria de Canavieiras catando as latinhas de cerveja que os consumidores iam descartando nos coletores ou mesmo no chão.

Com muito jeito, me aproximei e iniciei um breve "interrogatório" com aquele menino.

Enquanto respondia, o "Menino das Latinhas" ia recolhendo e pisando nas latas antes de guardá-las em um saco de linhagem.

Nessa nossa conversa, fiquei sabendo que os depósitos de sucatas e recicláveis da cidade pagavam entre 1 e 1,5 reais pelo quilo do produto.

Naquela rápida conversa, o Menino das Latinhas disse-me que com dinheiro de uma noite conseguia comprar os gêneros para o café da manhã e ainda alguma coisa para o almoço da mãe e dos dois irmãos menores.

Continuando a nossa conversa, perguntei se era capaz de calcular o peso do material já recolhido. O Menino das Latinhas disse que sim.

Perguntei se venderia o saco de latinhas caso aparecesse alguém querendo comprar naquele momento. Ele disse que sim.

Voltei a perguntar se aquele comprador, depois de consumado o negócio, pedisse para ele ir pra sua casa dormir ele concordaria. Assentiu meneando a cabeça.

Concluindo aquele "negócio", entreguei ao menino o dobro do valor que ele mesmo calculara.

Quando ele ia saindo feliz, deixando o saco de latinhas eu falei:
- "Ei! E as suas latinhas?"
Ele retrucou:
- "Acabei de vender p'ro senhor!"
- Então, tá! - respondi e fui dizendo:
- "Por favor, venda-as a outra pessoa por mim e fique com o dinheiro!"

Essa história, foi escrita e salva no meu computador com o título "O Menino e as Latinhas". Mas, antes de publicar, eu perdi todos os meus arquivos.

Ainda não se armazenava nada em "nuvem". O meu computador travou e nem a Info Help, loja especializada em informática, conseguiu salvar meus arquivos.

Claro que a narrativa anterior era um pouco diferente, tanto nas palavras quanto na precisão dos dados.

Souza Neto, J. A. - Nascido debaixo d'um pé de cacau na cidade de Canavieiras, Bahia,  é pai, marinheiro, professor - peladeiro nas horas vagas - e membro da Academia de Letras e Artes de Canavieiras (ALAC).  

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