segunda-feira, 31 de julho de 2023


2101 – O LIVRO QUE AINDA NÃO FOI ESCRITO

Capítulo IV – No Fórum

Naquela manhã acizentada de julho, Talassa e Aletheia dirigem-se ao Fórum da cidade de Redentor. O vento gelado e frio balouça os longos cabelos cacheados de Talassa. Aletheia, muito friorento, fecha o zíper do casaco até o pescoço.

Na entrada do estabelecimento, chamou-lhes a atenção a enorme escultura de Themis, o símbolo ilustrativo das grandes decisões judiciais. De olhos vendados, a estátua, em pé, segura na mão direita uma espada e na esquerda uma balança com os dois pratos da mesma altura.

A ida dos dois àquele órgão da Justiça tinha por propósito a homologação de um registro de acordo feito em cartório, no qual as partes haviam decidido - sem a intervenção de advogados -, o que era de direito de cada uma delas.

Ao ingressarem no saguão do prédio já os estavam esperando Hermes e Héstia, irmão e cunhada de Aletheia.

- Como vão vocês meus caríssimos?! - exclama Aletheia.

- Tudo bem Aletheia! - unissonamente, ambos respondem.

- E tu Talassa, como estás? 

- Tudo bem, meus amados! – Talassa responde e se aproxima dos dois para abraçá-los.

- Antes de virmos para cá, eu estava conversando com Héstia sobre o nosso conhecimento a respeito do modo como as divisões de patrimônios, muitas vezes, eram realizadas nos séculos passados – pondera Hermes.

- É verdade meu querido irmão! Mesmo nas condições de parentes, as pessoas litigavam nesses casos tão simples, ao ponto de gerar processos com advogados a defenderem os interesses das partes – concorda Aletheia.

- Como o mundo mudou, não é verdade amigos!? – exclama Talassa.

- Sim! Inclusive os representantes da Justiça hoje se resumem ao mínimo necessário para validar judicialmente esses acordos, a fim de cumprir as exigências legais que regem os direitos de propriedade – concorda Hermes.

- E não somente a quantidade de Juízes passou por uma redução... os profissionais da advocacia compõem uma classe praticamente em extinção – Aletheia acrescenta e continua... – Muito especialmente na área criminal devido a não mais ocorrência desses atos hediondos.  

- Pois é, meus amigos, tudo isso só foi possível depois que o planeta Terra passou pela última transição planetária, no decorrer dos dois séculos anteriores, quando os espíritos recalcitrantes perante as Leis Cósmicas - depois de diversas oportunidades dadas pela Fonte Criadora para os seus aperfeiçoamentos -, foram degredados para um orbe distante – afirma Héstia.

- É verdade! E não foi por falta de avisos! Os principais avatares enviados pela Divindade – e não foram poucos -, deixaram com muita clareza as suas mensagens de alerta aos homens – diz Talassa.

- Entretanto, alheados e enredados no cipoal das paixões - como acontece com os insetos nas teias de aranha -, os homens desdenharam desses alertas e hoje pagam pelas dívidas contraídas com as Leis Universais – assentiu Hermes.

- Pois é! De acordo com as notícias que nos chegam do plano astral, o que foi vaticinado se cumpriu, tendo dois terços da humanidade terrena sido banida para Absinto – Aletheia complementa.

- Sim – intervém Talassa – E tem muitos dos nossos irmãos merecedores de estar aqui nessa Nova Era que ainda não retornaram. Estão sendo instruídos em outras dimensões pelos Mensageiros da Luz, para trazerem novos avanços científicos e tecnológicos para o ambiente terreno, quando aqui chegarem.

- Seremos mais de dez bilhões de seres vivendo na organicidade e sem as mazelas do passado – completa Héstia.

- Exatamente! afirma Hermes – E hoje os alimentos já são abundantes em decorrência de novas técnicas de cultivo, dos avanços das ciências nas modificações introduzidas no DNA das plantas com o objetivo de torná-las mais resistentes, mais produtivas e mais nutritivas. 

- E com a ausência das criações de animais para alimento humano, os espaços disponíveis para o cultivo de alimentos vegetais aumentaram consideravelmente. Hoje, já são poucas as pessoas a se alimentarem de carnes; futuramente esse consumo será extinto, pois os alimentos de origem vegetal oferecerão todos os nutrientes necessários à uma vida saudável, incluindo os aminoácidos formadores das proteínas – conclui Hermes, com rara sabedoria.

- Não será mais necessário sacrificar os bichos! – Talassa exclama com entusiasmo.

- Hoje, – diz Héstia - o que chama a atenção é o fato de que, com apenas o fim da ganância, da cobiça e do egoísmo, todas as pessoas têm acesso à comida nas quantidades suficientes. E, pela mesma razão, hoje - neste ano de 2101 -, não faltam casas para que todos possam ter um lar para morar com conforto e dignidade.

- Este novo século é apenas o primeiro passo para o estabelecimento da Nova Era – o período de regeneração do planeta – cujas melhorias ainda estão por vir no decorrer do presente milênio – Aletheia afirma e todos concordam com gestos.

Cumprida a determinação legal de homologação judicial de todos os acordos anteriormente feitos nos registros cartoriais, os quatro amigos saíram do Fórum e foram confraternizar no Café Colonial Harmonia, um estabelecimento situado a poucos metros de onde se encontravam.

quarta-feira, 26 de julho de 2023

2101 - O LIVRO QUE AINDA NÃO FOI ESCRITO

2101 – O LIVRO QUE AINDA NÃO FOI ESCRITO 


Capítulo III – Visitando Alécia 


  Naquele fim de semana, Talassa e Aletheia realizam uma viagem que, há muito, havia sido programada. Uma rápida visita a Alécia, histórica e charmosa cidade do interior de uma das províncias de Soter. Em meados do século 20, Alécia ficou mundialmente conhecida por meio dos contos de um grande escritor da região, nascido na cidade vizinha de Tabocas. Em seus livros, o notável escritor narrava a saga de uma sociedade impulsionada pela riqueza advinda do plantio do Theobroma Cacao em suas terras. 

  Em Redentor, Talassa e Aletheia embarcam em uma das cápsulas do Hyperloop do SFLM (Sistema Ferroviário de Levitação Magnética) para, numa velocidade de 1.200 quilômetros por hora, em cerca de uma hora e trinta minutos estarem desembarcando em Alécia. 

  Já em Alécia, se dirigem à região central para se encontrarem com Abnara, um amigo de longa data que não viam há anos. 

 Acomodados nas confortáveis cadeiras dispostas no entorno de uma das mesas do mais tradicional bar e restaurante de Alécia - que ainda mantém o nome de Vesúvio, dado por seu fundador -, o trio de amigos beberica em cálices um coquetel não alcoólico feito com polpa de cacau e degusta pratos feitos com especiarias de origem vegetal, típicas da região. 

  De repente, Talassa chama a atenção dos dois para o antigo templo existente nas proximidades do Vesúvio: 

 - Vejam! Não faz muitos anos que as pessoas se amontoavam em templos como aquele com a finalidade de entrarem em comunicação com a Fonte Criadora! – Talassa exclama e continua... - Muitas pessoas eram condicionadas a isso desde a infância por orientação familiar; outras os procuravam no desiderato de buscarem o reparo dos erros e aliviarem os sofrimentos frente aos desregramentos e desafios vivenciais. 

  O estabelecimento que Talassa se refere e aponta é a antiga catedral de San Sebastián, que ali em Alécia está muito bem preservada e materializando a história de um passado não muito distante. 

  - É Talassa, ainda bem que a humanidade terrena evoluiu! A transição planetária ocorrida nas últimas décadas foi fundamental para que as pessoas compreendessem melhor o sentido da vida e as leis que a regem – pondera Abnara. 

  - Sim, Abnara, nesses locais bem como em outros das mais diversas denominações religiosas daquela época – apesar da insipiência de seus líderes -, as pessoas compareciam carregadas de boa-fé – disse Aletheia. 

 - Apesar dos equívocos de todas essas religiões elas tinham sua importância, na medida em que faziam as pessoas crerem na vida após a morte e na existência de um Ser Superior, que a tudo controla e vê. E isso, de certa forma, amenizava o descalabro que teria sido provocado pelo sentimento materialista reinante naquela época. A fé no porvir após o desprendimento carnal, atuava como uma espécie de freio aos devaneios das almas – interveio Talassa. 

  - É verdade Talassa! Imagine como seria o mundo se todos os homens julgassem que após a morte tudo acaba!? – exclama Aletheia. 

 - Então, apesar dos erros de interpretação das antigas Escrituras e do próprio Evangelho do Homem da Judéia, essas religiões possuíam uma boa utilidade naquela época, certo? – inquire Abnara. 

 - Sim! O que não quer dizer que os chamados “falsos profetas” não tenham assumido seus débitos perante as Leis Divinas em razão do mal uso das Verdades e dos nomes da Divindade e do Homem da Judéia no intento de angariar poder e riqueza! – responde Talassa. 

 - Mas, esses também não estão mais aqui... na Terra. O que foi um dia anunciado se cumpriu, com os seus degredos em um orbe muito distante e cheio de adversidades para a vida orgânica, como é o que se sabe a respeito da “Morada do Joio”; quando se lê 
nos anais históricos disponíveis nas “nuvens” e nas orientações que nos chegam por meio dos amigos astrais do Mundo Maior. Pelo que dizem, Absinto é um lugar muito pior do que a Terra no período primitivo que antecedeu ao das provas e expiações – conclui Aletheia. 

 - Isso mesmo! E, hoje, a humanidade terrena é outra. As infalíveis Leis Divinas Universais realizaram com muita justeza a separação do joio e do trigo; aqui permanecendo os brandos e pacíficos e exilando em outros orbes os propagadores do desamor e das torpezas humanas de outrora. E assim sendo, encontram-se atualmente na crosta do planeta Terra - e mesmo nas dimensões espirituais próximas - os denominados “eleitos”; no linguajar antigo – afirma Abnara. 

  - Com isso, os templos e as reuniões denominadas religiosas são desnecessários, uma vez que cada um dos que aqui estão, vive em plena e constante sintonia com a Consciência Universal, tanto por pensamentos quanto pelos atos que praticam – conclui Talassa. 

  - É como se cada homem e cada mulher fosse um templo, uma igreja, como eram chamados esses lugares no passado – diz Aletheia. 

  - E, o que é mais importante! Essa ligação dos homens com a Inteligência Suprema não tem nome; não se denomina religião. É um estado natural da vibração magnética que está presente em todos. Inclusive naqueles que passam períodos nas dimensões da espiritualidade – explica Abnara. 

  - Até porque, apesar do maior número de anos que agora cada espírito permanece na vida carnal em decorrência da maior pureza dos corpos astrais e dos avanços das Ciências, o processo “nascimento-crescimento-e-morte” segue seu curso natural. É parte da Lei e serve para que todos os que habitam o planeta Terra nessa nova fase regenerativa, possam vivenciar a vida material sem as vicissitudes e os enredamentos no cipoal de paixões do passado. 

  O diálogo entre esses caridosos amigos que vivem em 2101 nos dá a dimensão exata de como será a vida futura neste orbe terreno, que hoje está prestes a concluir mais uma transição. 

 Depois dos comes e bebes e do compartilhamento de conhecimentos e impressões na companhia do querido amigo, Talassa e Aletheia se despedem de Abnara e vão passear pela belíssima orla litorânea de Alécia. 
    “É hora de matar as saudades do lugar” – pensam juntos.

segunda-feira, 24 de julho de 2023

2101 - O LIVRO QUE AINDA NÃO FOI ESCRITO - Capítulo II

 


2101 – O LIVRO QUE AINDA NÃO FOI ESCRITO

 

Capítulo II – No Estacionamento do Shopping

 

A manhã estava com céu claro e temperatura amena. Por sinal, o calorão infernal que fazia na primeira metade do século passado não era comum naqueles tempos do ano de 2101. O planeta havia se recuperado de todas as agressões sofridas em anos idos pelas ações antrópicas, incluindo as guerras com armas nucleares, que quase tornaram a metade ocidental do velho continente inabitável.

 

Em decorrência do avassalador estrago ambiental causado pelas guerras, muitas pessoas haviam migrado para as regiões mais preservadas e habitáveis do chamado Cone Sul das Américas, entre estas estava a província de Soter, onde viviam Talassa e Aletheia; integrando uma sociedade altamente espiritualizada e que servia de exemplo para o resto do mundo.

 

Nesse belo dia, Talassa e Aletheia, em um moderno veículo movido a hidrogênio, ingressaram num amplo estacionamento do Shopping Center Fast Store. Enquanto paravam o veículo numa vaga preferencial – Aletheia tinha mais de 60 anos – outros veículos aéreos pousavam sobre a parte alta do estabelecimento. Esses veículos aéreos ainda eram poucos e todos movidos a energia diretamente processada do fluído cósmico.

 

Ao parar o veículo na vaga escolhida, Aletheia olha para Talassa e comenta:

- Você sabia que nos e-books antigos encontrados na Internet está escrito que as pessoas com direito a essas vagas tinham que se cadastrar em um órgão público e portar um cartão específico para o estacionamento?

- Sim, Aletheia! – respondeu Talassa. E Talassa continuou... – Isso acontecia porque pessoas que não se enquadravam no direito, de forma irresponsável e dominadas pelo egoísmo, colocavam seus veículos nessas vagas.

- Inacreditável! – disse Aletheia.

- Felizmente, hoje vivemos em um mundo diferente! Há registros de que muitas pessoas que detinham essa prerrogativa mas não possuíam o cartão deixavam de estacionar seus veículos nessas vagas, a fim de evitarem multas.

- Sim! Isso é mais inacreditável ainda! Ora, se alguém não tem direito à vaga, por que colocava o carro nela? Nem seria necessário ter o cartão! Quem estivesse com o carro estacionado era o detentor do direito!

- Pois é Aletheia, eram tempos difíceis aqueles. Ainda bem que hoje vivemos num mundo diferente e só tomamos conhecimento dessas coisas pelas notícias do passado que estão registradas nas “nuvens” da Web!

- E a separação realizada pela transição planetária foi determinante para que tudo isso acontecesse, não é!?

- Sim! – afirmou Talassa.

- Fico aqui imaginando se depois de tão poucos anos do final do exílio planetário, os recalcitrantes que foram para Absinto já fazem uso de automóveis por lá.

- Acho que não! Chegaram em um lugar muito primitivo onde, apesar do conhecimento adquirido no planeta Terra, levarão muitos anos para atingir o patamar científico que aqui vivenciaram nas últimas vidas do século passado.

- É aí onde se vê a verdadeira Justiça imposta pelas Leis da Fonte Criadora!

- Isso mesmo! Mas, não estão abandonados! Como afirmou o Homem da Judéia: “Nenhuma das minhas ovelhas se perderá!” Estão em Absinto com a mesma sensação vivida por nós; quando deixamos Capela para renascermos neste planeta - ainda primitivo também -, há muitos milênios. Naquela ocasião, tínhamos a sensação de termos perdido um Paraíso!

- Dentro de mais algumas centenas ou milhares de anos, a depender do aproveitamento do tempo passado nesse lugar de sofrimento e ranger de dentes, poderão retornar à Terra: o, então, Paraíso Perdido!

- Sim, certamente! – disse Talassa finalizando a conversa.

Talassa e aletheia ingressaram no shopping e foram às compras. Já estavam chateados de tanto comprar em lojas virtuais. Nada como entrar em uma loja física, pegar no produto e coisas do gênero.   

2101 - O LIVRO QUE AINDA NÃO FOI ESCRITO - Capítulo I

 


2101 – O LIVRO QUE AINDA NÃO FOI ESCRITO

 

Capítulo I – Na Praça da Liberdade

 

O dia amanheceu esplendoroso! Entre raras nuvens, o Astro Rei brindava os habitantes de Soter com seus raios vivificantes, o que tornava o ambiente ao ar livre agradável e acolhedor.

O ano é 2101 e o dia é 8 de janeiro...

Na Praça da Liberdade de Soter, um grande número de pessoas se amontoava em efusivas comemorações.

Os inseparáveis Aletheia e Talassa transitam por ali.

- São as comemorações anuais! – diz Aletheia.

- Sim! Não se pode esquecer dessa data! – responde Talassa.

- Ainda que em 2101 o mundo seja bem diferente daquele em que os fatos aconteceram! – assentiu Aletheia.

- É verdade Aletheia! A humanidade vive um outro momento. O nível evolutivo estimula as pessoas a entrarem em sintonia com Inteligência Universal para pedirem pelos que foram degredados, em virtude das injustiças praticadas no passado. A grande distância de Absinto da Terra não impede que suas rogativas ao Criador atuem em prol daqueles que, com seus rompantes de insanidade e pouca compreensão da vida, fizeram de mal.

- Pera aí Talassa! Também não precisa fazer discurso, né!?

- Há, há, há... – Talassa ri e continua - Mas, eu preciso continuar falando Aletheia! As pessoas que estão lá na dimensão do passado e lendo este livro precisam estar bem informadas para que não cometam os mesmos erros! Todos aqueles que foram injustamente presos nos calabouços de Planalto já estão de volta à vida material na Terra e aqui em 2101 e desfrutando do grande momento que se estabeleceu depois da grande transição planetária. Enquanto isso, os seus algozes pranteiam em lágrimas e rangem os dentes no desiderato de se redimirem dos erros.

- E observe que entre os exilados da Terra não estão somente juízes, políticos e empresários! Nas agruras de Absinto, esses convivem com outros irmãos nossos que também desperdiçaram suas vidas na Terra por terem enveredado no caminho do tráfico, no consumo de drogas e na sensualidade exagerada – considerou Aletheia.

- E também praticaram assaltos e outros crimes hediondos e contrários às Leis Universais – completou Talassa, de forma bem didática.

- É, minha querida Talassa... A exemplo do nosso amigo Anésio, as pessoas se esqueceram das orientações recebidas dos avatares que habitaram o orbe terreno ao longo dos anos! Em especial, do maior de todos, nascido na Judéia!

- Sim! E, depois de tanto tempo e de tantas orientações de mais de dois mil anos, ainda precisam estar purgando pelos erros cometidos!

- Ainda bem que os tempos são outros! – disse Aletheia.

- Sim, meu amigo! Em Soter e nas demais províncias da Terra só tem lugar nesse momento para os mansos e pacíficos!

quinta-feira, 30 de setembro de 2021

FAL, MEU INSEPARÁVEL AMIGO!


FAL, MEU INSEPARÁVEL AMIGO!

Era começo dos anos 70... eu já estava morando no Rio.  O dinheiro do meu velho avô que vinha da Bahia tinha "criado asas".  Suas fazendas de cacau haviam sido penhoradas por um banco onde ele tinha pegado uma grana para custeio e não pode pagar.  E aqui, na Cidade Maravilhosa, eu era "custeado" pelo velho Cazuza, meu avô.

Foi assim que tive a oportunidade do primeiro contato com FAL. Um conhecido meu, que era Fuzileiro Naval, me disse: "Cara, por que você não entra pra Marinha?"  "É melhor do que voltar pra Bahia, com uma mão na frente e outra atrás!"  

Até que a idéia não era tão ruim assim... pensei.  

Seguindo a orientação do amigo, no dia 7 de abril de 1970, ingressei nas fileiras do Corpo de Fuzileiros Navais.  -  os "pragas amarelas", como eram conhecidos pelo pessoal da "Marinha de Gola".  Não sem antes realizar um concurso, claro.  A concorrência já era grande naquela época!

Assim que cheguei no Batalhão, passei por toda aquela transformação "natural" que faz um "paisano" virar "milico". Como (quase) todo mundo conhece a sutileza do processo não vou perder tempo contando. 

Não demorou muito e eu fui apresentado a FAL. Seu nome completo de batismo era Fuzil Automático Leve. Sua nacionalidade belga e seu calibre 7,62 milímetros.  Jamais imaginei que iria ter um amigo estrangeiro tão depressa no Rio.  E o que era mais importante, eu deveria mantê-lo permanentemente nas mãos, no ombro ou cruzado junto ao peito, próximo ao coração.  Isso, quando estivesse em vigília, pois, quando  dormindo, deveríamos dividir a mesma cama (beliche).  

Esse meu mais novo e inseparável amigo tinha características muito próprias: 1,10 metros de estatura, da soleira da coronha à ponta do cano,

A amizade por FAL foi tanta, que decidi ficar nas fileiras dos "pragas amarelas" por 30 anos. Porém, nesses 30 anos, tive que cometer algumas infidelidades com o amigo. Com menos de um mês, me apresentaram INA, uma brasileira que "vomitava pombos" mais rapidamente do que FAL. INA  era uma submetralhadora dengosa e, também, toda pretinha.  Seu nome era derivado de "Indústria Nacional de Armas". Mas, tinha uma mania que eu não gostava: engasgava de vez em quando, especialmente, quando tinha que "transar" uns balaços com maior rapidez. Quando eu enfiava o dedo de forma mais acentuada em seu ponto "G", ela sempre "travava".

Não demorou muito, e eu fui sendo apresentado a outras...  

Meu amigo FAL ficava um pouco enciumado, mas, não tinha jeito... Fazia parte da vida dos "pragas amarelas", conhecer e flertar com todas aquelas beldades.  Podia precisar se safar com uma delas num momento de sufoco, quando a "jiripoca piasse". E, naqueles tempos bicudos, no Rio, a "jiripoca" sempre "piava"!  

Tempos depois, fui obrigado a conhecer COLT 45.  Uma balzaquiana, nascida nos Estados Unidos, que provocava grande impacto entre os fuzileiros, pois o calibre de seu "alimento" era mais grosso, e, quando botava pra fora, fazia estragos irreparáveis. 

COLT 45 fora a amante preferida dos oficiais aliados durante a 2ª Guerra Mundial.

Depois vieram outras apresentações, novos amigos e novos amores. Armas como FAP -  Fuzil Automático Pesado  -; THOMPSON, uma "menina" fabricada nos EUA e que rivalizava com  INA, dentre outras, como as de grosso calibre, como os Morteiros, os Canhões Anti-Carro e os Lança-Rojões. 

Aconteceu o momento de ser apresentado a BERETTA. BERETTA era muito charmosa, carregava 15 "bombons" de uma só vez e possuía dupla-ação.  Ela veio pra desbancar COLT 45, que tinha uma idade avançada, mas não reinou por muito tempo. Foi logo substituída por TAURUS PT92AF,  lindíssima garota gaúcha, do Rio Grande. Também "engolia" e "cuspia" 9 milímetros, tinha a mesma capacidade de BERETTA e também funcionava em dupla-ação.

Ah, ia esquecendo...   Também tive um caso amoroso muito sério com MAG, quando fui do Pelotão de Petrechos.  MAG  -  a Metralhadora Automática a Gás   - esse  era seu nome completo. Pesadona e muito eficiente. Tinha a mesma nacionalidade de FAL e FAP  -  a Bélgica.  MAG possuía um impresionante poder de  "fogo"  -  até mil "azeitonas"  em um minuto!  Acima de tudo, era versátil. Deixava-se possuir em várias posições: a tira-colo, nos momentos de assalto, ou confortavelmente acomodada sobre um tripé, nas situações de defensiva. 

Nesses 30 anos nos "pragas amarelas", tive muitas "amantes", mas nunca abri mão da amizade com FAL. É que, muito cedo, descobri que FAL era o único que não me deixava "na mão"... Não "negava fogo" nem mesmo quando as circunstâncias eram altamente desfavoráveis: depois de mergulhado na água ou mesmo recoberto de lama...  FAL estava sempre pronto para o que desse e viesse...

Mesmo depois que fui apresentado e tive um leve contato com AR-15 e AK-47  -  espécie de primos carnais mais novos de FAL  -, não dei muita bola pra eles.  Havia uma grande amizade entre mim e FAL. Nada podia mudar isso.  Tinha com ele uma extraordinária consideração.  Além disso, FAL  confiava plenamente em mim e eu nele.  Mexia sem cerimônias em todas as suas partes.  Éramos tão amigos que eu o desmontava e montava em poucos minutos e até com venda nos olhos. Percebia suas peças apenas pelo tato; retirava-as e as colocava no lugar. Além disso, perdemos a conta das vezes que dormimos no mesmo bivaque, na mesma barraca, dentro d'água, no meio do mato...  Passamos pelos mesmos perigos... Juntos... sempre juntos! Quantas vezes guardei-o entre pernas, outras preso pela bandoleira, às vezes a tira-colo, enquanto dormia!? O medo de sermos surpreendidos um longe do outro era maior do que tudo, por isso o chamego. E, naquelas circunstâncias, um sem o outro não era nada! Chegamos a uma tal intimidade que, quando eu o mandava acertar o centro do alvo, ele não me decepcionava... era mosca na certa!  A sinalização que vinha lá do  fosso onde ficavam os alvos indicava: cinco pontos em cada disparo! Nunca demos "banho de areia" nos marcadores que ficavam abrigados nos pés dos alvos da Linha de Tiro. Por isso, minha mãe nunca era xingada por eles. Meu FAL foi responsável por me tornar um atirador de "1ª Classe" e respeitado nas fileiras dos "pragas amarelas". Hoje, meu amigo, você  -  caso ainda não tenha se "aposentado", como eu  -  deve estar em outras mãos...  Espero que bem cuidado, como antes... na base do óleo lubrificante nas quantidades certas nas partes móveis e bem sequinho, com flanelas e varetas, na alma raiada!


Souza Neto

terça-feira, 28 de setembro de 2021

SOBRE A DOR

 SOBRE A DOR


Atendendo aos ditames vigentes nesses dias em que ainda se convive com uma invisível e mortal criação humana - nesta bela terça-feira em que o Sol nos brindou com com seus raios vivificantes e cheios de energia -, preparava-me para ir até a orla de São Pedro da Aldeia para a costumeira caminhada matinal apreciando a lâmina d'água da maior laguna de água salgada do planeta  - a Lagoa de Araruama. 

Abro parênteses para dizer que nos anos 70, quando fazia o curso de Educação Física, aprendi com o Kenneth Cooper que "a vida é oxigenação". Aqui, em San Pierre di la Vilage, caminhar na orla da lagoa é uma das melhores opções para se oxigenar pulmões e tecidos musculares.  

Antes de sair - e enquanto Gilma se aprontava -, dei uma remexida nos livros que ficam numa estante e - quase que por acaso -, peguei o clássico de Gibran Khalil Gibran, O Profeta. Um livreto de pouco mais de cem páginas.

O Profeta já fora um dos meus livros de cabeceira em tempos idos.

Quem o leu, sabe que a história se passa praticamente na praça de um burgo conhecido pelo nome Orphalese onde um homem sábio (Al Mustafa) que vivera no lugar cerca de pouco mais de dois lustros, havia decidido deixá-lo e estava prestes a embarcar no navio que o levaria de volta à sua terra natal.

Antes de chegar à  praça e estar entre a multidão, o Profeta conversa consigo mesmo:

"Como poderei partir em paz e sem tristeza?"

"Todavia, não posso tardar mais. O mar que tudo chama a si, está me chamando, e eu devo embarcar."

Na sua caminhada em direção ao porto, viu ao longe homens e mulheres deixando seus campos e vinhedos e apressando-se rumo às portas da cidade. E ouviu vozes chamando o seu nome e outros anunciando a chegada do navio.

Uma vez mais, o Profeta, introspectivo, perguntou-se:

"O que oferecerei àquele que deixou o arado no meio do sulco, e a quem paralisou as atividades de sua vinícola?"

Tão logo entrou na cidade, todas as pessoas vieram ao seu encontro.

Cercado pela multidão, na praça central da cidade e enquanto aguarda a chegada do navio, Al Mustafa dispõe-se a responder as perguntas do povo de Orphalese.

Folheando ligeiramente a brochura, lembrei-me que entre as vinte e seis respostas dadas pelo Profeta havia uma em que ele respondia sobre a dor.

Devido aos momentos em que vivenciamos com o vírus chinês, busquei esse capítulo, cujos trechos a seguir transcrevo.

"E uma mulher disse: Fale-nos da dor.
 
E ele respondeu:

 "A vossa dor é o quebrar da concha que envolve a vossa compreensão."
 
"Assim como o caroço da fruta tem de fender-se para que o seu coração fique exposto ao sol, também vós deveis conhecer a dor."
 
"E se conseguísseis maravilhar-vos com os milagres diários da vossa vida, a vossa dor não vos pareceria menos intensa do que a vossa alegria; e aceitaríeis as estações do vosso coração, tal como haveis aceite as estações que passam sobre o vossos campos."
 
"E passaríeis com serenidade os invernos das vossas mágoas."
 
"Muita da vossa dor é escolhida por vós.  É a poção amarga com a qual o médico dentro de vós cura o vosso interior doente."
 
"Por isso confiai no médico e bebei o seu remédio em silêncio e tranquilidade; pois a sua mão, embora dura e pesada, é guiada pela mão terna do Invisível, e o cálice que ele vos dá, embora possa queimar os vossos lábios, foi feito com o gesso que o Oleiro umedeceu com as Suas lágrimas sagradas."

Finalizada a leitura desses trechos, pus-me a buscar o melhor entendimento dos escritos de Gibran diante da dor que a partida dos entes queridos de tantas pessoas tem provocado por conta da pandemia. 

Na ignorância que carrego, assemelho-me a uma gota d'água no oceano para poder acrescentar uma vírgula que seja a essa sábia resposta de Al Mustafa.

No entanto, arrisco-me a dizer...

Seu médico está dentro de você. Suas frequências vibratórias poderão ser o remédio que te propicia a cura ou o veneno que te contamina, te adoece e, por conseguinte, te traz a dor!

SOUZA NETO, J. A. - nascido debaixo d'um pé de cacau, é Oficial Superior da Marinha do Brasil, professor e membro da Academia de Letras e Artes de Canavieiras (ALAC).   

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

UMA BANANA PARA O RACISMO

 UMA BANANA PARA O RACISMO 

Arranjei um tempinho para escrever sobre essa onda de preconceitos racistas que estão ocorrendo por aí. Em especial no Futebol. Aliás, não somente nesse esporte... Como em quase tudo nessas terras de Santa Cruz. 

Sinto-me bem à vontade pra falar do assunto... sou mestiço. Meu pai trazia muito acentuadamente os traços de sua descendência portuguesa; enquanto a minha mãe, marcantemente, os de sua origem indígena. 

No Brasil, o maior preconceito não é pela cor da pele; senão pela região de nascimento, pelo poder aquisitivo, pela humildade... 

Mas, isso incomoda a quem mesmo!?

Conheço gente que nasceu na roça debaixo d’um pé de cacau e galgou posições consideradas, digamos, de destaque por alguns. 

Dei risadas pelos cotovelos quando o baiano Daniel Alves descascou e comeu a banana que lhe foi jogada no campo durante uma partida de futebol realizada em um país europeu. 

Aos jornalistas, Daniel respondeu após o jogo:

“Estou na Espanha há 11 anos e há 11 anos é dessa maneira. Temos de rir dessa gente atrasada”. 

O resto e mimimi! 

E viva a diversidade! 


Souza Neto, J. A. – Nascido debaixo d’um pé de cacau, na cidade de Canavieiras, Bahia – é marinheiro, professor e membro da Academia de Letras e Artes de Canavieiras (ALAC).

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

SEM IGUAL

 

SEM IGUAL

Em que outro lugar...


É possível encontrar

Tantas belezas naturais:

Rios, praias, manguezais,

Belos e esvoaçantes coqueirais! 


Em que outro lugar... 

Essa gente, essa Terra;

Esse vasto céu anil.

Procurando não encontro

Noutros cantos do Brasil!

 

Em que outro lugar... 

Rica fauna, flora...

Belíssima! Sem igual!

Somente em Canavieiras.

E a riqueza mineral? 


Não me faça esperar...

Marinheiro, professor!

Diga logo, por favor.

Nas andanças de além-mar

Lugar tão belo encontrou?!

 

Sem delongas nem rodeios...

Ó caixeiro-viajante!

Que já viajaste bastante.

Nas bandas por onde andaste,

Lugar tão belo encontraste?! 


Com o coração em êxtase

Falo de Canavieiras.

Terra amada por seus filhos.

Ao largo, singra o navegante

A deslumbrar-se com seu brilho. 


A contragosto finalizo

Essa prosa fraternal.

Neste meu blog não cabe

Milésimo... muito menos metade

Das riquezas e belezas da minha Terra Natal.

 

SOUZA NETO, J. A. - nascido debaixo dum pé de cacau, é Pai, Marinheiro, Professor-Regente do Magistério da Bahia e Membro da Academia de Letras e Artes de Canavieiras (ALAC).

IMPACTOS DO REGRESSO

 IMPACTOS DO REGRESSO 

Júbilo e satisfação... voltei, revi, procurei...

Era junho de 2000; o povoado efervescia com os festejos a Antônio de Atalaia.

Defronte à singela orada, "surfando" minha face, os alísios vindos do Atlântico soavam como uma ode.

Sibilar emocionante a encharcar minh’alma de recordações dos tempos de menino.

Transcorrem os dias... Vem-me a percepção da realidade.

É visível o medo estampado na fronte de cada homem, cada mulher...

Meu aceno com o bom fruto e águas límpidas não fazia eco.

Parecia não haver sedentos que quisessem aproximar-se... e beber... e saciar-se.

Vi-me na encruzilhada do partir e do ficar.

Partir pela covardia de enfrentar... ficar pela necessidade de pagar a dívida social com o povo de Canavieiras, minha Terra.

Tomei a decisão mais difícil. Sentei-me nas encruzilhadas dos caminhos mais usuais. Aguardei maiores possibilidades de intercâmbio, trocas... Sem buscar recompensas.

Pus-me, expus-me diante dos poucos famintos e sedentos de saber e ansiosos por mudanças.

Quase nada a oferecer... apenas frutos do meu pomar, que não estavam podres, e um pouco de água limpa e cristalina, lentamente filtrada pelos anos.

Ousei, até ousei, imaginem! E por ousar rabisquei alguns textos.

Até disse, e ainda digo, que quatro páginas impressas era um jornal. O Aríete não tinha lado... nunca esteve “vendido”.

Senti, observei... Em alguns, vi reflexos de sensatez.

Teria encontrado quem quisesse comer do bom e maduro fruto? Beber e saciar-se da água pura?

Era cedo pra dizer. Minha necessidade em doar era maior que a daqueles que precisavam receber.

Minhas angústias eram pesados grilhões que me fortaleciam na perseverança e na busca de resultados.

Enfim, o estandarte estava desfraldado! Não havia mais possibilidades de recuo!

Pregava a defesa da moralidade e honestidade na administração pública; intencionava o banimento dos atavismos e o despertar da razão em todos os corações.

Com fibra e altivez, foi hasteado e mantido no topo das consciências; içado no ponto mais alto, onde o pensamento atávico, retrógrado não pudesse alcançá-lo.

Janeiro de 2009... Um pouco cansado de tudo... A mesmice campeando pelos quatro cantos...

Parti para dar abrigo aos anseios dos meus que reclamavam oportunidades de estudos mais avançados na cidade de Ilhéus.

No transcurso de 9 anos, minha vida foi uma gota de sangue nas veias de Canavieiras e uma lágrima nos seus olhos e um sorriso nos seus lábios.

Marchei com passo firme rumo à verdade. Como lâmpada que não se apaga, sal que o tempo não estraga, sonhos que o despertar de cada manhã não dissipa.

Trago comigo a certeza de que a muda do coqueiro plantado nas areias de Atalaia viverá mais do que todas as chicanas engendradas pelos políticos de minha Terra!

Que o carro de madeira puxado pelos bois na fazenda Barreiras é mais nobre do que todas as ambições dos mentecaptos do poder.

Que, até mesmo, as hortaliças plantadas nas terras secas da Burundanga durarão mais do que a pérfida negociata dos salafrários do poder contra meu povo.

Tentei reunir pequeninas sementes, que plantadas no solo fértil das Dragas, poderiam ter sido esperança de redenção de tua floresta seca. Mas, em meio a elas estava o joio!

Muitos estão satisfeitos. Eu sei. E haverá satisfação enquanto a inexorabilidade do tempo e a infalibilidade das Leis Universais não suplicar seus espíritos.

Eu – ainda que insatisfeito -, sigo com suavidade e paz, pois sei que há coisas em Canavieiras que os capadócios do poder nunca irão mudar:

O Rio Pardo continuará correndo para o mar ainda que alguns tentem represar suas águas;

Os ventos alísios continuarão o seu canto nas palhas dos coqueirais;

O vai-e-vem das marés continuará a dar vida aos teus manguezais.

Dia virá em que os falsos líderes, ambiciosos do poder temporal, que se sustentam às custas do suor alheio, terão o manto negro rasgado.

Dia virá em que a mentira escondida sob o véu das falsas inteligências e a astúcia disfarçada pelo esnobismo sucumbirão.

Então, a verdade genuína e desnuda olhar-se-á num poço de águas claras e verá seu rosto sereno e seus traços abertos.

Nesse dia, cada canavieirense sentir-se-á um sábio, que sentado à sombra dos coqueirais, olhará com indiferença para tudo que não é Deus, nem Luz, nem Sol! 

Souza Neto, J. A. - nascido debaixo dum pé de cacau, é Pai, Marinheiro, Professor-Regente do Magistério da Bahia e Membro da Academia de Letras de Canavieiras (ALAC).