sexta-feira, 30 de agosto de 2013

COMO A INGENUIDADE E A TOLICE FERTILIZAM AS ESPERTEZAS

Fazia uma manhã modorrenta em Alécia. Mesmo àquela hora  - e já passava das 8  -, o sol teimava em se esconder por detrás de espessas nuvens acinzentadas. 

Andando pelo centro, Alethea se depara com Abnara (sem trocadilhos). Abnara está a aguardar a chegada de uma amiga comum aos dois: Talassa.  

Oriunda de Soterópolis, a embarcação que a traz perdeu o horário. As condições do mar não estão muito favoráveis à navegação.

Talassa
Enquanto aguardam, Alethea e Abnara tratam de colocar o papo em dia.

Abnara comenta com o amigo sobre as tentativas dos "eco-espertos" jogarem a população de Alécia contra os empreendimentos estruturantes que estão porvir: o Porto e a Ferrovia.

- Esses tais "ambientlistas" são semelhantes a certos "religiosos"...

- Como!  -  Alethea interrompe, impedindo Abnara de concluir seu raciocínio.

- É isso mesmo!  - completa Abnara.

E Abnara prossegue:
- A humanidade não pode reclamar por não ter sido alertada! O Homem de Nazaré foi muito claro quando recomendou para se ter cuidado com os falsos profetas.

- Sim, e daí... Não estou entendendo! Onde está a semelhança entre os falsos profetas e os "eco-chatos"!?  -  interroga Alethea, demonstrando certa ironia.

- Na forma de enganar, velho!  Na maneira como fazem dos incautos e menos esclarecidos uns bobocas!

- Ah! Sei...  -  Balbucia Alethea.

- E veja que os motivos são os mesmos, tanto dos falsos profetas da religião quanto dos falsos profetas do meio ambiente: ganhar dinheiro!  Os "religiosos", dos pobres coitados; os "eco-espertos", dos ricaços do mundo!

- É, mas por que isso acontece...? 

- Porque os motivos dos enganados também são semelhantes!

- Como!?  -  Alethea quase sai do chão.

- Simples, meu caro.  -  Retorna Abnara com sua voz pausada e mansa.  - Não se esqueça de que a maioria dos homens na Terra está sempre em busca de um degrauzinho para o Céu.  Pelo menos os ditos espiritualizados... Os que não são materialistas nem agnósticos.

- É... Você tá certo!  -  Consente Alethea.

- Por isso tornam-se tolos e são facilmente enganados pelos falsos profetas das religiões. Você já notou como número de igrejas não para de crescer! Cada dia surge uma nova e com nome novo!? E geralmente com seus templos encravados nas comunidades mais carentes e menos esclarecidas!?

- Calma Abnara, não precisa fazer discurso!

Fingindo não ouvir as ponderações do amigo, Abnara continua:
- Pipocam aqui, ali, como se fossem milho jogado no óleo quente!

- Mas, por que os caras se deixam enganar assim!?

- Velho, já lhe disse: anseiam por um degrauzinho que os leve até o Céu!  E, por sua própria inteligência limitada, esses homens e mulheres se tornam joguetes da ilusão!

- Sei, mas o que leva as pessoas a serem enganadas pelos falsos profetas do meio ambiente, se estes não prometem nada das esferas celestiais? 

- Ah! Cara! Aí a moeda de troca é outra!  Diferentemente daqueles que querem um "terreninho" no Ceú, os sublimados pelos "eco-espertos" querem um terreninho aqui mesmo na Terra.  Uma gleba, um sítio... uma área cheia de mato... um riozinho ou uma lagoa pra pescar uma piaba e colocar no espeto. Coisas assim! E querem que o desenvolvimento passe bem longe, ainda que seus descendentes tenham que comer o pão que o diabo amassou para sobreviverem miseravelmente, quando poderiam muito bem tirar proveito do mundo tecnológico que aí está.

- Porra, cara!  Quando você engrena não quer mais parar de falar!

- Eu só estou tentando lhe explicar, Alethea. O homem é um tolo. Seu orgulho e sua pouca inteligência leva-o a aceitar erros por verdades e repelir verdades como se erros fossem!  E o resultado colhido desses enganos são as decepções.  Decepç...
 
- Olha lá!  Lá vem nossa amiga Talassa!  -  Exclama Alethea apontando o indicador na direção de um pontinho quase imperceptível no horizonte do mar de Alécia.

Foi o suficiente para ambos encerrarem aquela conversa e a passos lépidos dirigirem-se ao cais.

Por: Souza Neto


Índice remissivo:
- Alécia - Aquela que é banhada pelas águas do Mar.
- Alethea  -  Verdade Suprema.
- Abnara  -  Luz da Sabedoria
- Talassa  -  Vinda do Mar

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

No Melhor Começo

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Marco Balbi
Com o título acima, o jornalista Jânio de Freitas aborda em sua coluna de 1º de agosto, publicada no jornal Folha de São Paulo, as restrições orçamentárias impostas pelo Executivo federal a vários órgãos governamentais, dentre os quais teve destaque, pelo montante, a do Ministério da Defesa.
Inicialmente o articulista aponta que a decisão inicial do Comando da Marinha, posteriormente desmentida, de suprimir o expediente da grande maioria das organizações militares subordinadas, sob o aspecto meramente econômico, era muito boa, justificando com percentuais não muito claros, ao mesmo tempo em que envolve o Exército Brasileiro e o meio expediente que vige em grande parte das unidades desta Força.
Esquece-se por certo o jornalista que a profissão militar é sideral, ou seja, seus membros encontram-se 24 horas à disposição da sua Força. Cumprem suas escalas de serviço, atendem aos exercícios de adestramento, participam das atividades previstas pela Constituição Federal e pelos demais dispositivos legais, conforme determinado, sem hora ou descanso. E sem receber qualquer tipo de ajuda remuneratória, nos seus parcos salários, reconhecidamente os mais baixos da administração federal.
Na ânsia de atribuir um aparente laissez-faire aos militares remonta-se ao tempo do então Ministro do Exército, Leônidas Pires Gonçalves, quando o Exército deixou de ter a "regalia" do meio expediente às quartas-feiras. Bom, se voltasse mais ainda no tempo, poderia lembrar que as organizações militares cumpriam expediente aos sábados pela manhã.
A seguir o artigo levanta uma suspeita, faz uma denúncia sobre os contratos assinados pelo governo brasileiro, através do Ministério da Defesa e do Comando da Marinha com uma empresa francesa para a construção da Base de Itaguaí, onde se desenvolve o projeto dos submarinos brasileiros, incluindo o nuclear. Parece-me que se o jornalista tem efetivamente dados que comprovem o benefício concedido a uma determinada empresa brasileira que os apresente formalmente ao Ministério Público para que o mesmo abra o processo necessário para conduzir a investigação. Caso contrário, estará apenas tentando sujar a reputação de pessoas e empresas com meras suspeitas.
A seguir, busca denegrir a imagem das Forças Armadas, acusando-as de desatualização conceitual, por ainda estarem doutrinariamente ligadas aos tempos da 2ª Guerra Mundial. Bom, só para falar do Exército Brasileiro, mas que por certo ocorreu com as demais Forças Armadas, desde 1970 a doutrina vem sendo constantemente atualizada, mediante o estudo continuado, característica da profissão militar. O Sr. Jânio de Freitas por certo nunca esteve em contato com organizações que estudam e pesquisam a doutrina, casos históricos recentes e atuais, atualizando permanentemente os currículos das escolas em todos os níveis, de oficiais e praças.
Da mesma forma o articulista deve desconhecer o esforço hercúleo desenvolvido pelos institutos de pesquisa das três forças, tentando desenvolver tecnologia autóctone, com os parcos e descontinuados recursos financeiros disponíveis e tendo como massa crítica cientistas, muitos deles formados nas ilhas de excelência do IME e do ITA. Por certo que não só estes, mas também os operacionais acompanham o avanço que as modernas tecnologias impõe ao modo de conduzir um futuro combate que todos, em especial os militares, esperam não acontecer. Mas precisam, pelo menos, de um mínimo de poder dissuasório para desestimular eventuais ameaças.
Para finalizar o artigo não poderia deixar de dar as duas últimas contribuições com características rançosas: o anti-americanismo e o inconformismo com a reação democrática de 1964. Quanto ao primeiro critica a atuação dos EUA na defesa dos seus interesses ao redor do mundo. Quanto ao segundo afirma que as organizações militares "deixaram de ser clubes de conspiração antidemocrática." Justo no ambiente onde sempre se forjou o caráter de jovens brasileiros, incutindo-lhes civismo e patriotismo, o Sr. Jânio de Freitas acha que se conspirava diuturnamente contra a democracia. O autor deve ser um ótimo ficcionista.

Marco Antonio Esteves Balbi é Coronel na Reserva do EB.