sexta-feira, 12 de julho de 2013

SÓFOCLES: SOBRE AS ELEIÇÕES


Máquina de medir Honestidade
Final de tarde em Alécia. Encontro o sábio Sófocles aboletado numa daqueles desconfortáveis cadeiras do Bar Vesúvio. Não sei como a estátua do Contador de Estórias consegue permanecer ali tanto tempo!

Cumprimento-o e sento-me.

Conversávamos amenidades, coisas de menor importância, quando chega o amigo e sempre esquecido Anésio.

Anésio dá um outro rumo à nossa conversa.  Quer falar de política. Começa dizendo que o candidato fulano ou beltrano pode ser a solução para os desmandos dos últimos tempos em Alécia.

É aí que, com sua extraordinária sabedoria, o Glorioso Sófocles faz a seguinte intervenção:

- Políticos!  Um dia poderei acreditar neles!  Mas só quando houver uma máquina capaz de medir honestidade!

Anésio, olhando pra ele surpreso, só consegue balbuciar:

- Ma... mas...

- E tem mais!  -  Prossegue Sófocles  -  A máquina tem que ser inviolável! Os caras são capazes até de fraudar equipamentos pouco confiáveis!

Achando tudo aquilo um pouco engraçado, digo:

- Sou obrigado a concordar com você Sófocles. Mas... mesmo sem ter a alma de Elpídio, acredito que entre todos que compõem a nossa sociedade, deva existir um  -  ao menos um  - honesto e competente para dirigir os destinos de Alécia. Um de nós, por exemplo!

- Sim, há!  Até muito mais que um! Mas estes não somam entre os políticos.  Pelo menos entre os atuais conhecidos e partidários.  Quanto a nós mesmos, é bom ficarmos de fora!

- E se um desses de que você fala resolver entrar na política e se candidatar?  -  Pergunta Anésio.

- Olha, Anésio, o cara não vai conseguir se eleger!  Será o menos votado entre todos candidatos.

- Mas, por que você pensa assim?  -  Insiste Anésio.

- Vamos lá!  -  Prossegue o Glorioso  -  Esse nosso candidato vai cumprir a legislação eleitoral, não vai?

- Vai!!!  -  Respondemos em uníssono.

- Bem... O que você acha que acontecerá quando, durante a campanha, um eleitor condicionar o seu voto a um "presentinho", como 200 tijolos, 1 saco de cimento, 1 cesta básica, ou coisa que o valha?

-  Ele não vai aceitar!  -  Responde prontamente Anésio.

- Pois é, por isso ele não será eleito!  Vai perder o voto desse eleitor e de todos aqueles que não são honestos.

- Como!?  Então você acha que o eleitor que vende seu voto não é honesto!?

- Acho não... Ele é tão desonesto quanto o que compra seu voto! 

E Sófocles continua:

- E é aí que mora o problema... Para que uma pessoa honesta consiga se eleger é preciso que a maioria do eleitorado também seja honesta.  E hoje não é!

- Pô, cara!  Não tinha pensado nisso!  -  Exclama Anésio.

- É isso!

Eu, que fiquei a maior parte daquela conversa como expectador, entendi as razões de Sófocles ser chamado de Glorioso e Sábio. Também achei que, depois da lição do Sófocles, o Anésio vai começar a por seus neurônios para trabalhar.

Por: Souza Neto

  • Alécia  -  Aquela que é Banhada pelas Águas do Mar 
  • Sófocles  -  O Sábio  -  O Glorioso.
  • Anésio  -  O Desmemoriado  -  O Esquecido.
  • Elpídio - Aquele que tem esperança.

terça-feira, 9 de julho de 2013

IGNORE O CANTO DA MULTIDÃO E MARCHE AO SOM DE SUA PRÓPRIA MELODIA

Num belo e ensolarado dia, caminhava pelo calçadão no centro de Alécia, quando escutei uma voz: "Alethea!"  Aquele timbre me era bastante familiar, mas, de imediato, não consegui ligá-lo a nenhuma pessoa.  Voltei-me e, a pouca distância, vi o amigo Agabo, com o qual não tinha contato há um bom tempo.

Caminhamos, um na direção do outro, e trocamos um forte abraço.  

- Há quanto tempo!  -  Disse Agabo.

- Olá, cara!  Faz muito tempo mesmo que não nos vemos!  Tá lembrado da nossa última conversa!  Até publiquei no Blog "O Aríete"!?

- É!  Faz muito tempo mesmo!

- E aí, continuas com teus equívocos!? Caminhando e levando todos que te seguem para lugares incertos? -  Indaguei.

- Que nada Alethea!  A vida tem me ensinado...

- O quê!?  Não me diga!?  Ensinado o que, por exemplo?

- Ah!  Sabe aquela coisa de ficar dando muito valor ao alheio, ao que não te pertence...?  que não é da região onde você nasceu?

- Sei!  -  Respondi, curioso.

-  Pois é, velho!  Eu agora deixei de lado aquele hábito de seguir o canto da multidão e aprendi a marchar ao som da minha própria melodia!  -  Agabo pronunciou essa frase poética cheio de orgulho.

-  Não me diga!  E aí!  -  Incentivei-o a continuar.

- E aí, que eu deixei de fazer as coisas por imitação... sá cumé qui é, né!?

- Sei claro!  Um certo dia, eu mesmo te aconselhei nesse sentido, lembra!?

-  Lembro sim!  Não cantar a mesma música... não pintar o mesmo quadro... não passar pelo mesmo caminho... não imitar outras pessoas... não torcer por um time de futebol que nunca viu jogar num estádio... Foi isso que você um dia me aconselhou, correto!?.

-  Humm!!!  Tô lembrado! Só que aqui em Alécia quase nada mudou.  O que que mais se vê é gente que se deixa levar pela influência da mídia... especialmente da "vênus platinada"!

-  Pois é, cara...  Estou deveras mudado!

-  Mas, como foi isso... assim tão de repente!?

-  Velho... eu comecei a pensar...  pensei nos grandes inventores de todos os tempos: será que eles imitaram alguém?  Será que eles tentaram repetir o que já havia sido feito?  O Thomas, da lâmpada... o Sabin, da vacina... o Leonardo... e tantos outros! E os lugares que já alcançaram um elevado nível de desenvolvimento? seguiram uma receita ditada por outros? ou criaram sua própria receita? 

-  Então, você rompeu com aquela mesmice que é marca registrada do povo de Alécia e, praticamente, de quase todo nordestino?

-  Foi!  E cheguei à conclusão de que o estágio de subdesenvolvimento em que nos encontramos se deve a isso...

-  Isso, o quê!?

- Ao fato de darmos valor ao alheio em detrimento do que é nosso!

-  Ah! Então você aprendeu is...

-  Sim, aprendi!  -  Interrompeu Agabo, ansioso por continuar falando.  -  Inclusive, deixei de torcer pr'aquele time do Rio... só pr'aquele não! não torço pra nenhum time de fora!  Só torço para times da Bahia! Os de fora, só quando estão representando o Brasil, como o Santos, agora, na Libertadores!

-  Que mudança, hein cara!  -  Elogiei.

- É... Descobri duas coisas...

- E quais são?  -  Perguntei.

-  Primeiro, que estava me comportando como um bobão e fazendo parte da "Vergonha do Nordeste".  Depois, compreendi que...

O homem que sabe ler e não lê, tem pouca vantagem sobre um analfabeto!



- Pô, velho...  Você até parece um filósofo!  Acho bom até mudar de nome!  Que tal mudar para Abnara, "A Luz da Sabedoria"!?

- Tá brincando, Alethea!

Saímos dali e fomos beber uma gelada no Barrakitika. Meu amigo Agabo tinha mesmo passado por uma grande mudança. Pena que a maioria dos nativos de Alécia ainda insistam na tolice de achar que o que é bom vem do sudeste, isso quando não recorrem a padrões eurocêntricos.

Por: Souza Neto

segunda-feira, 8 de julho de 2013

477... Em 2012, serão 478!

Não!  Não é o número de um vôo!

É uma contagem de tempo... Tempo que levou um burgo e sua gente a profundezas abissais!

O cotidiano dos trabalhadores... o odor forte do suor das mulas... secadores, cochos e caçuás... "ocupações" de criança de roça...

Reminiscências de menino num fragmento desse tempo. 

Um dia, o menino deixou uma das províncias de Alécia e o sibilar de seus alísios esvoaçantes para trás. 

Foi "surfar" o Atlântico! Três décadas ininterruptas no desiderato de bem cumprir uma missão.  

Andanças propícias à emancipação e ao senso crítico, quando bem aproveitadas.

A roda do mundo andou... continua andando...

Observo Alécia!

Contrariando a inexorável roda  do tempo e marcada pela insanidade dos próprios rebentos, Alécia estacionou!
O bailar das ondas, ainda que incessante e alvissareiro, nada trouxeram! 

Aos poucos, os "forasteiros" nascidos em tuas entranhas vão retornando. Aqueles que passaram a enxergar além das cercas e possuem honestidade de propósitos, exortam teu povo ao "arregaçar de mangas". Começam a incomodar... É natural o brandir dos açoites pelos teus rebentos mais insanos que aqui permaneceram enchendo as algibeiras e manipulando as visões mais estreitas com bridões e antolhos.

Passaram anos impedindo os "sem direitos" de galgarem a linha do horizonte... De, a cada horizonte conquistado, enxergarem novos horizontes... e, infinitamente, novos horizontes...

Mas, tudo tem tempo, tem hora! Esse tempo é agora!

Fala-se de construção de ponte...Ligar nenhures a algures e alhures.  Comenta-se sobre zona franca, aeroporto, ferrovia...

Sim!  É preciso construir uma "PONTE"! 

O mais importante é a "PONTE"!

Uma "PONTE" que supere o abismo criado pelos homens! Isso não se alcança simplesmente com cimento, pedras e trilhos! 

Fazem-se necessários novos comportamentos, despidos de egoísmos, com honestidade de propósitos e visão de futuro! 

Uma reforma íntima de cada um de seus habitantes!

Como último e necessário recurso, far-se-á o alijamento dos refratários à reforma pessoal da vida pública.  Não devem permanecer, como "resíduos" nocivos à sociedade, a dar o tom e os rumos de Alécia!
Contudo, tudo não passa de um sonho. De um lado, grandes possibilidades de um retorno ao passado... De outro, o próprio passado reunindo-se em assembléias para a manutenção do status quo.

Sem mudanças concretas, novas pontes, viadutos, aeroportos, duplicação de estradas, ferrovias, "zepeéis", não passam de vãs realizações! 

Acorda, Alécia!!!

Por: Souza Neto  -  Escrito originalmente em 10/01/2012

DIÓGENES VISITA ALÉCIA (REPUBLICANDO)

O Astro Rei estava totalmente encoberto por espessas nuvens negras.

Do céu, incessantes e finos pingos d'água teimavam em cair sobre Alécia.

Estávamos  -  eu e Adalta  -, nos dirigindo ao aeroporto Jorge Amado para recepcionar um amigo vindo de muito longe.

Ainda no saguão, avistamos Diógenes no aguardo da liberação de sua bagagem.

Do lado de fora, pudemos ouvir a voz rouca do Diógenes dirigindo-se a um funcionário do estabelecimento:

- Cuidado! - Tem coisa frágil aí dentro... pode quebrar!

Adalta e eu nos entreolhamos e devemos ter pensado juntos:

"Deve ser a tal lamparina!"

Eu mal podia acreditar!  Em pouco, estaria diante de duas das mais expressivas e probas figuras da Grécia Antiga: Adalta, a Espiritualizada e Diógenes, o Filósofo que dedicou a vida na busca de um homem honesto, com sua lamparina!

E o que era mais importante: poderia dialogar com elas!

Assim que ultrapassou a porta que separa a sala de desembarque do saguão, o ex-discípulo de Antístenes acenou em nossa direção.

Nos aproximamos para recebê-lo...

- Olá, Adalta  -  disse Diógenes  -  Esse daí deve ser o Alethea de quem você tanto fala!

- Seja bem-vindo, Diógenes de Sínope. - disse Adalta, acrescentando  -  Sim, este é o grande Alethea!

- Olá, Alethea!

- Como vai filósofo?

- Tudo bem... mas, não me chame assim! - exclamou Diógens  -  Você já viu filósofo mendigando nas ruas e morando dentro de um barril?!

É que o Diógenes de Sínope, depois de ter deixado a companhia de Antístenes, passou a perambular pelas ruas de Atenas e Corinto, fazendo da pobreza extrema uma virtude. Sua casa era um barril.

- Ora! mas isso é uma opção que qualquer um que esteja contrariado com os rumos da sociedade pode tomar, como forma de protesto! Ninguém, em sã consciência, deve cruzar os braços diante da corrupção! -  Tentei justificar.

- É, você tá certo! Quando se está impotente diante de uma situação dessas, só resta o protesto!  - assentiu Diógenes.

-  Mas, deixemos os problemas atenienses pra lá! vamos ao que interessa neste momento...  -  disse Adalta, com certa ansiedade  -  O que o traz aqui em Alécia, Diógenes?

- Você não vai acreditar!  Ganhei duas passagens aéreas e a estada de uma semana no Brasil! Foi num concur...

- Mas, por que a escolha de Alécia?! - interrompe Adalta.

- Andei lendo alguns contos de um escritor local muito conhecido por lá... Jorge..., acho que é esse o nome!

- Ah! o Jorge Amado!  -  exclamou Adalta.

- Sim, esse mesmo!

- Olha!  talvez você não saiba, mas, o "Contador de Estórias" já silenciou! Ele agora está morando em outro lugar!

Disse e completei, perguntando:

- O que você espera encontrar por aqui?!

- Oh! quem sabe... algum outro homem honesto!  Se não um escritor... quem sabe, um político!


- Hummm...! por isso que você trouxe sua famosa lamparina, né!?

- Ah!  você conhece a história, Alethea?

- Como não!?

- Bem... é isso... vou aproveitar o tempo passado aqui em Alécia para iss..!

- Pois vai perder seu tempo!  -  interrompeu Adalta, com certa rispidez.

E foi completando:

-  Aqui, você vai gastar todo o gás de sua lamparina e não irá iluminar uma fronte sequer de um honesto! Muito menos, se for político!

- Ma...  -  tentou ponderar Diógenes.

- E tem mais, caro Diógenes, em Alécia também não tem estátuas...! Ou melhor, tem somente uma... a de uma protistuta grega chamada Sapho. Não sei se você a conheceu por lá!

Como eu não estava entendo a razão de Adalta ter se referido a estátuas, perguntei:

- Adalta, e onde é que entra estátua nessa história? Diógenes só deseja encontr...

Adalta  -  interrompendo-me  -  apressou-se em explicar:

- Uma vez, em Atenas, nosso amigo Diógenes foi visto falando com uma estátua... e quando lhe perguntaram o motivo de tal conduta, ele respondeu: 
"Por dois motivos: primeiro é que ela é cega e não me vê, e segundo é que eu me acostumo a não receber algo de alguém e nem depender de alguém."
Levamos o Diógenes até a pousada indicada pela agência de turismo e, antes de nos ausentarmos, aproveitamos para deixar um conselho ao nosso ilustre visitante:

- Diógenes, sugerimos que você aproveite todo o seu tempo livre para descansar, tomar banhos de mar e provar da culinária local.  - disse Adalta.

Prosseguiu Adalta, fazendo outro alerta:

- Tenha cuidado com a lixarada e os ratos que podem ser encontrados nas ruas!  Não queremos que você volte para Atenas cheio de doenças!

- É... quando for a um barzinho ou restaurante, peça uma caipirinha!  -  completei.

Adalta, mais uma vez, alertou:

- E nem pense em ir a "Tabocas das Pedras Pretas"! Essa província vizinha a Alécia não é diferente!  A canalhice e a esculhambação também reinam por lá!

- Nem utilizando todo o combustível do Gasene na sua lamparina, você encontrará um honesto em Alécia ou Tabocas! Especialmente, se for no meio político!  -  dissemos juntos.

Durante todo o tempo em que o filósofo Diógenes de Sínope permaneceu em Alécia ele seguiu nossa recomendação ao pé da letra.

Curtiu o quanto pode as belezas de Alécia e nem retirou a lamparina da bagagem!

Autor: Souza Neto  - Escrito originalmente em 30/06/2011.

Souza Neto, J. A.  -  nascido debaixo dum pé de cacau, na cidade de Canavieiras (BA), é Marinheiro, Professor-Regente do Magistério da Bahia e Membro da Academia de Letras e Artes de Canavieiras (ALAC).

ALÉCIA: AQUELA QUE ESTÁ MOLHADA PELA ÁGUA DO MAR (REPUBLICANDO)

Alethea pega o telefone e, ligando para Agatocles, diz:

-  Sabe quem me mandou um e-mail hoje?

- Não! – responde Agatocles.

- Diógenes, cara!

- Diógenes? 

- Sim, aquele carinha da Grécia... de Atenas... o filósofo, lembra? Ele andou lendo meu Blog e...

- Ah! Sei... o de Sínope, o Cínico!

- É... que bom que você lembr...

- Sim, e daí?

- Daí que ele me disse que vem fazer uma visitinha em Alécia.

- Ma... pra fazer o quê?  Ele ficou doi...?

- Vem com o mesmo objetivo pelo qual dedicou a sua vida inteirinha! Em especial, vai buscar entre os polít...


- O quê?  Então ele pretende encontrar um político honesto em Alécia?

- É isso mesmo... e vem trazendo sua lanterninha. Vai abastecer com o gás do GASENE, uma novidade pra ele, né?

- É! É pra alumiar o caminho, é?

- Não, é pra ver bem na cara do sujeito...!

- Sei... vamu esperar, né!? Você tem dúvida de que...

- ... ele vai perder o tempo dele... é isso que você quer dizer?

- Você também acha, é?

- Acho. Mas ele também vai buscar um homem honesto entre os eleitores de Alécia!

- O quê? Como?  E o que tem os eleitores com os políticos desonestos?

- Ora, meu caro Agatocles, ele desconfia de que se tem político desonesto eleito é porque também tem eleitor desonesto!

- É o que vende o voto, né!? Troca por tijolo, cimento, dentadura tamanho único, óculos de grau universal, corote... Esses que ficam, de dois em dois anos, esperando a eleição pra votar nos "vagabas"!

- É... mas, tá lembrado das Sete Leis da Sabedoria? Da Lei da Correspondência?

- Ahn, sei... o tal do hermetismo!

- Isso mesmo... o princípio da correspondência ensina que “É verdadeiro, completo, claro e certo. O que está em cima é como o que está embaixo e o que está embaixo é como o que está em cima...”

- Então, ele vai comprovar a tese do...

- ... Hermes Trismegistus, isso mesmo!

- Pois é... mas o Hermes também disse que tem a Lei da Polaridade, onde "Tudo é duplo, tudo tem dois pólos, tudo tem o seu oposto."  Portanto, deve ter pelo menos um ou dois políticos e eleitores em Alécia que são honestos, né!?

- Claro! E a gente também não pode esquecer da Lei de Retorno ou de Causa e Efeito, né Agatocles!?

- Concordo... cara!  E a porra da Lei é muito clara, né!?  - “Toda causa tem seu efeito, todo efeito tem sua causa..., existem muitos planos de causalidade mas nenhum escapa à Lei"  -  Então, todos os desonestos estão fudidos e mal pagos?

- Nem tanto assim, pois conseguem um estado  temporal de usufruto das roubalheiras! Mas, essa Lei é infalível... não poupa ninguém que tenha culpa no cartório!

- É velho!  Nem todo mundo acredita que é responsável pelos seus atos... alguns julgam  que enganando as leis fajutas escritas pelos humanos, tá tudo bem... mas num tá, né!?

- É... e aí vem o que os orientais chamam de “karma”... e os caras desonestos sifu... por aguçarem a ira dos deuses! Hê! Hê!

- Sim, Alethea... e qual vai ser a saída pra gente resolver esse problema?

- Meu caro, vai levar um bom tempo.  Primeiro, aqueles poucos que são honestos não podem ficar...

- ... de braços cruzados, você quer dizer?

- Sim... segundo, vai ser preciso muito investimento...

- Investimento? Mas, quanto mais investimento, mais os carinhas metem a mão!!!

- Não, Agatocles... não é dinheiro vivo que vai entrar nos cofres da Prefeitura de Alécia, não! É investimento em Educação!  Educação de qualidade, entendeu!?

- Ah! Entendi!

- É isso que eu quero dizer... se não houver a participação dos honestos cobrando e denunciando e os investimentos em Educação, Alécia vai pro brejo... ou melhor, não sai do brejo!


- Mas, aí entra outra Lei, né!?

- Sim... a Lei do Ritmo, você deve conhec...

- Sim, claro... conheço! “Tudo tem fluxo e refluxo, tudo tem suas marés, tudo sobe e desce, o ritmo é a compensação.”

- É isso...! e os opostos se movem em círculos. Isso quer dizer que essa onda de esculhambação tem seus dias contados... irá expandir-se, caso ainda não tenha chegado ao ponto máximo, e depois escafeder-se. Pimba! Recomeça um novo ritmo ou ciclo, dessa vez no sentido inverso.  Esperemos... com o bem preponderando sobre o mal, que aí está! A Lei do Ritmo é a garantia de que cada ciclo busque sua compensação... e acho que estamos no final de um desses ciclos.

- Porra, velho!  Não precisa fazer discurso! Tá querendo humilhar?

- Desculpa, vai... me empolguei! 

- É... pobre Alécia, tão bela e charmosa...

- ...e abandonada, vilipendiada,fudida...! apesar de o mar continuar banhando suas entranhas. A única desgraça que eles não vão conseguir fazer com Alécia é mudar o seu nome. Alécia será sempre Alécia, pois tem um enorme oceano beijando suas belas curvas litorâneas, enchendo-as de sal e vida!

- "Vamu" esperar, né!?

"Vamu", não porra! "Vamu" é agir!!! A hora é agora...!


Autor: Souza Neto  - Originalmente escrito em 18/01/2011.

Estariam as Sete Leis da Sabedoria agindo no Brasil? 

Souza Neto, J. A.  -  nascido debaixo dum pé de cacau, na cidade de Canavieiras (BA), é Marinheiro, Professor-Regente do Magistério da Bahia e Membro da Academia de Letras e Artes de Canavieiras (ALAC).

QUE PAÍS É ESSE!?


QUERO CANCELAR MINHA LINHAAAAAAAAAA! P.....!!!


sábado, 6 de julho de 2013

O LETRADO E O JANGADEIRO

Atalaia é um pequeno povoado do município de Canavieiras (Bahia), situado na ilha que lhe dá o nome. 

Até meados dos anos 70, a Ilha de Atalaia ficava isolada da cidade pela inexistência de ponte ligando as duas ilhas (Canavieiras é ilha fluvial). Naqueles tempos, o meio de transporte entre Atalaia e a sede eram as canoas a remo e algumas poucas a motor.

Atalaia era habitada por uma maioria de pescadores nativos (caiçaras) e, nos finais de semana, recebia a visita das famílias dos "barões" do cacau, que lá possuíam suas casas de veraneio.

Num determinado final de semana, convidado por um desses "barões", aporta à ilha um ilustre convidado. O sujeito, além da elevada instrução, era um empreendedor de muito sucesso. 

Jangada de Piuba
A pesca na ilha era totalmente artesanal - como ainda ocorre nos dias de hoje  - e feita com jangadas.

Nos seus primeiros contatos com os caiçaras, o visitante observou-os jogando carteado sob as sombras dos oitizeiros, enquanto as crianças se divertiam na extensa área formada de gramados e plantas, correndo picula e jogando futebol.

Em plena segunda-feira, o visitante espantou-se ao ver os nativos ainda descansando sob a sombra dos oitizeiros, jogando conversa fora, dando vez por outra uma pitada num chumaço de sari e ainda no jogo de canastra, como vira no dia anterior. 

Informou-se com seus anfitriões e ficou sabendo que os caiçaras colocavam suas jangadas no mar, quando muito, um dia por semana. Geralmente, no dia em que a lua - e a maré  - estavam favoráveis a uma boa pesca. Nessas saídas passavam dia e noite pescando até capturarem o pescado julgado suficiente para a manutenção de suas famílias pelo período mínimo de sete dias. 

A maior parte do produto da pesca era levado para a cidade (Canavieiras), onde, com o dinheiro da venda, compravam arroz, feijão, carne, farinha, açúcar e outros gêneros de primeira necessidade, além de fumo, mortalha e cachaça.

O restante do tempo, os nativos passavam do jeito que o visitante havia observado naquele curto espaço de tempo na ilha: jogando baralho e pitando cigarros de mortalha e fumo de rolo debaixo dos pés de oiti. Suas jangadas ficavam devidamente "docadas" sobre cepos de madeira e muito bem amarradas, à salvo das ondas que subiam nas preamares. Só retornavam ao mar quando a "dona maria", soava o alarme ao fiscalizar a despensa: "Fulano, o feijão só dá pra mais um dia!"

Naquele mesmo dia, geralmente na boca da noite, os homens colocavam suas jangadas no mar.  Às vezes nem era preciso o alarme emergencial do estoque...! Acompanhando as fase da lua, eles já sabiam o dia certo pra nova empreitada mar adentro.

Intrigado com o que via, e cheio de conhecimento pra dar, nosso ilustre visitante deu um jeito de arrumar mais um dedo de prosa com os caiçaras.

E foi dizendo:

- ... se vocês pescarem cinco ou seis dias por semana, dentro de um ano, com o dinheiro que juntarem, poderão comprar um barco e aposentar a velha, desconfortável e "insegura" jangada!

Os pescadores, entreolhando-se, dão uma trégua no carteado para continuar ouvindo as palavras bonitas e sábias daquele culto visitante.

- Em dois anos serão dois barcos... Daqui a dez anos dez barcos! Daqui a vinte, vinte barcos!  Pronto! Aí vocês serão empresários de uma frota de barcos pesqueiros.  Poderão pagar a uma tripulação para fazer a pesca pra vocês... Não precisarão mais enfrentar os perigos do mar e, se quiserem, poderão ficar até os sete dias da semana, inteirinhos, debaixo dos oitizeiros jogando baralho e fazendo o que bem entenderem!

Ao final das palavras do visitante, um dos pescadores perguntou:

- Seo moço! por que qui nóis tem qui isperar vinte ano pra fazer o qui nóis já tá fazendo agora!?

SOUZA NETO

quinta-feira, 4 de julho de 2013

A PREGUIÇA NOSSA DE TODOS OS DIAS!

Oi gente!
De vez em quando leio em algum lugar a tentativa inócua e esfarrapada de se contrapor à "tese" de que nós bahianos somos preguiçosos.  

Ora, preguiçosos existem em todos os lugares desse Planeta! Concordo. Mas, em se tratando de Brasil, nós (bahianos) somos imbatíveis quando o assunto é PREGUIÇA!

Até já pensei em escrever um livro sobre essa danada que vive trepada nos nossos cangotes.  Mais, pensei... pensei... pensei um pouco mais  -  o que não é normal em mim, pois fico cansado só de pensar!  -, e decidi que não vou escrever porra nenhuma!  Escrever dá trabalho!  Dá ou não dá!? Além do mais, por que vou escrever uma porra de livro se o povo tem preguiça de ler!?

Fico aqui imaginando o pobre coitado do Jorge Amado, dia e noite premindo o teclado de sua velha Olivetti pra escrever os contos dos coroné dessa Terra!  Além de corajoso e imaginativo, Amado conseguia dar uma espanada na velha preguiça.

Quando digo que não vou escrever mais o tal livro é porque não vou ter tempo! Esta semana que está terminando, joguei quatro babas com os amigos; no próximo fim de semana deverei ir a Canavieiras rever amigos - e jogar mais futebol -, claro! 

Ainda por cima, preciso arranjar tempo pra beber umas biritas, um uisquinho com gelo de água de côco, ficar um pouco sob o sol, torrando.  Nas horas de folga, quando não estiver fazendo nada, (nada do que está aí em cima!) vou dar uma durmidinha pra descansar!  

Ninguém é de ferro! Nasci na Bahia, véi!

Com todo esse "trabalho" que preciso fazer, ainda tenho que dar atenção à minha bahiana em casa: assisti-la fazendo streep ao som de um  axé ou arrocha, por exemplo.  Inda vou ter de arrumar um tempinho para ver as bahianas alheias (na Bahia se diz "dos outros") sentando na boquinha da garrafa, quicando na latinha, ou quaisquer outras dessas "traquinagens" inventadas na Bahia. 

Ufa! Já  ficando cansado véi! É de tanto pensar e escrever essa matéria!

Só  dizendo aqui que tava pensando (vixe!) em escrever um livro porque já desisti da ideia. Se não tivesse desistido não iria dizer porra nenhuma pra ninguém! O que mais tem por aí é bahiano preguiçoso que vive tentando descobrir o que os outros tão pensando pra roubar a ideia. 

Os priguiçoso róba inté ideia! Vixe!

Como não  mais preocupado por ninguém tentar roubar essa ideia trabalhosa de escrever o tal livro sobre a preguiça da baianada, vou até citar alguns causos que comprovam a nossa preguicinha de todos os dias.

PREGUIÇA DE SUBIR ESCADAS

Um conhecido comerciante de Canavieiras resolveu aproveitar a sobreloja do "supermercado" pra ampliar o estabelecimento. 

Concluída a obra, colocou na sobreloja os produtos de camping, praia, eletrodomésticos e outros não-comestíveis. Estranhamente, todas as vezes que eu subia àquele piso, ele estava praticamente vazio. Decorridos alguns meses, o comerciante fechou a sobreloja e colocou todos os produtos no térreo.

Curioso, perguntei:  "Fechou a parte superior por quê?"  

Ele respondeu: "Bahiano tem preguiça de subir escada até pra receber dinheiro, imagina pra comprar alguma coisa!"

É que o acesso à sobreloja era por uma escada"pedante"; se fosse rolante teria acontecido o mesmo que vem ocorrendo na loja Riachuelo do Shoping Jequitibá, em Itabuna: tem até fila pra os nativos que querem"andar" de escada rolante pela primeira vez! Outro dia, quando não achei vaga embaixo (do shoping) e tive que estacionar o carro em cima, tinha uma petizada fazendo festa com a subida e a descida da escada rolante!  Nos caixas da loja, Chuelo Ria de tristeza com o "paradeiro".  Movimento? só mesmo na escada rolante! Se fosse dono da loja cobrava uma "taxa-escada"!

PREGUIÇA DE ATRAVESSAR A RUA

Isso acontece muito nas cidades menores da região e nos bairros não-centrais de Itabuna e Ilhéus...

O sujeito vem com o carro pela rua... vai dirigindo normalmente, pelo lado da mão... Mas, o lugar de destino, onde irá parar, fica no lado oposto. Isto é, na contramão! Aí, o cara faz uma "baianada": leva o carro para a contramão e estaciona ao lado do meio-fio.  Do meio-fio do lado que vai descer, lógico!  Já sai do carro pisando na calçada vizinha ao endereço de destino.   

Pra que atravessar a rua!? Isso dá um trabalho retado pra quem é preguiçoso!  Melhor correr o risco de se envolver num acidente com outro carro, de dar uma"atropeladinha" num pedestre...  tudo em nome da senhora preguiça!

Não, não vou falar quantos minutos o bahiano leva pra colocar a primeira marcha depois que o sinal fica verde! Também não vou dizer que a baianada tem preguiça de ligar a seta indicando que pretende dobrar à direita, e,  com isso, outro carro que está no cruzamento à frente (do lado direito) deixa de se movimentar e sair, por conta desse pequeno ato preguiçoso.

Ciclista por o pé no chão e esperar pra dobrar à esquerda no cruzamento...!  Ôxe! Nem pensar! Tá "doidio"! Enfia-se com a bike pela contramão entre os carros e o meio-fio "adversário" e se pica! 

Aí em cima, em algum lugar do texto (tô com uma preguiça retada de contar as linhas e os parágrafos pra facilitar), escrevi "vixe" e "ôxe". "Vixe" e "Ôxe" são dois exemplos verbais da nossa preguiça. Já pensou falar "Virgem Maria!" ou mesmo "Ó gente...!".  Ao longo do tempo os termos foram se contraindo: de Virgem Maria para Virgem; de Virgem para Vixe; e, agora, de Vixe para Ixe.  Ó gente passou pra Óxente; agora é Ôxe.  Pra que dizer o nome todo se todo mundo entende, 

Veja que comecei essa prosa com o vocativo "Oi gente!".  Imagina o tempo que ia levar e as letras que ia gastar pra escrever "Olá amigos leitores deste blogue!"

E viva a preguiça!

Souza Neto